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André Matos e a banda Angra: os pioneiros do metal melódico brasileiro

Biografias · Por Dora Guerra

13 de Junho de 2019, às 14:45

No dia 8 de junho de 2019, o Brasil perdeu um dos maiores nomes do metal: André Matos. Membro fundador da banda Angra, o músico era responsável por muitas das ideias que mudaram totalmente a sonoridade do metal aqui no Brasil.

Cantor André Matos
Créditos: Divulgação

Para você que era um grande fã do André ou apenas sentiu a comoção na comunidade musical, achamos que uma boa homenagem seria lembrar um pouco do legado deixado pelo artista. Por isso, o post de hoje é sobre a história do Angra e de nossas músicas preferidas da banda. Vem com a gente:

A história do Angra

Formada em 1991, em São Paulo, o Angra é uma banda brasileira de power metal. Seus membros contavam com André Matos, vocalista, tecladista e multi-instrumentista, e os guitarristas Rafael Bittencourt e André Linhares, inicialmente. Com o tempo, a formação se tornou um quinteto.

Banda Angra
Formação original da banda Angra / Créditos: Divulgação

“Angra” é um termo tupiniquim que significa “deusa do fogo e da beleza”. Além disso, pode ser usada para referenciar uma pequena baía (como Angra dos Reis) e lembra a palavra angry (bravo, em inglês).

André Matos e Rafael Bittencourt: O início da banda Angra

Entre 1985 e 1990, André Matos havia feito parte do grupo Viper, que já era uma banda bastante influente no heavy metal brasileiro. Em 1990, André decidiu sair da banda e focar nos estudos na Faculdade Santa Marcelina. Lá, estudando composição e regência, se aproximou do colega Rafael Bittencourt, ex membro da Spitfire.

Banda Viper
Banda Viper / Créditos: Divulgação

Os dois tiveram uma ideia que poderia parecer maluca: juntar a agressividade do heavy metal com ritmos étnicos brasileiros e um pouco de música erudita. Quase como a proposta do Queen com seu ópera rock – mas, agora, no metal. Assim surgiu a incomparável Angra.

É fã do estilo? Vem conferir uma seleção incrível de clássicos do rock.

Assim, André Linhares, Luis Mariutti e Marco Antunes completaram o grupo. Em pouco tempo, Linhares teve de sair da banda e foi substituído por Kiko Loureiro.

Aproveitando a onda mundial no power metal – aqui chamado de metal melódico – , os 5 assinaram com a JVC e viajaram até a Alemanha para gravar seu primeiro álbum, Angels Cry, em 1993. Nessa turnê, Ricardo Confessori assumiu o posto de baterista da banda, com a saída de Marco Antunes.

Capa do álbum Angels Cry da banda Angra
Capa do álbum Angels Cry / Créditos: Divulgação

Angels Cry foi um sucesso (especialmente no Japão!) e foi responsável por mostrar ao mundo a potência do som do Angra. Três anos depois, a banda lançou Holy Land (1996), um disco conceitual inspirado nas Grandes Navegações. Nessa época, foi a banda que abriu os shows do AC/DC aqui no Brasil. Não é pouca coisa, né?

Capa do álbum Holy Land da banda Angra
Capa do álbum Holy Land / Créditos: Divulgação

Em 1998, o novo trabalho – intitulado Fireworks – foi lançado, agora mais focado nos ritmos brasileiros. Foi uma época que rendeu até a participação de Bruce Dickinson (do Iron Maiden) em um dos shows da turnê. No entanto, os conflitos com o empresário Antônio Pirani se agravaram e resultaram em uma ruptura na banda. Em 23 de outubro de 1999, André Matos, Ricardo Confessori e Luis Mariutti fizeram seu último show pelo Angra.

Capa do álbum Fireworks da banda Angra
Capa do álbum Fireworks / Créditos: Divulgação

Rebirth

Na história de (quase) toda banda influente, rola um momento de brigas e de separação. Com o Angra não foi diferente: com a saída do vocalista, baixista e baterista, os membros restantes adotaram a filosofia do “the show must go on” e recrutaram novos músicos.

Com Edu Falaschi nos vocais, Aquiles Priester na bateria e Felipe Andreoli no baixo, o Angra faz seu grande retorno em 2001. Nesse ano, lançaram o disco Rebirth (renascimento), assumindo totalmente essa nova fase da banda.

Capa do álbum Rebirth da banda Angra
Capa do álbum Rebirth / Créditos: Divulgação

Ah, vale lembrar que os ex-Angra André, Ricardo e Luis, se juntaram novamente na banda Shaman, com o guitarrista Hugo Mariutti (irmão de Luis). Foi um grupo também bastante influente – foi até a primeira banda de heavy metal a ter uma música em trilha sonora de novela, acredita? Pra ouvir as melhores do Shaman, vem conferir a nossa playlist!

Banda Shaman
Banda Shaman / Créditos: Divulgação

A banda atualmente

Hoje, a banda Angra segue com mais novos integrantes. Em 2012, Edu Falaschi saiu da banda, sendo substituído por Fábio Lione. Já Kiko Loureiro se tornou guitarrista da grande Megadeth, cedendo lugar a Marcelo Barbosa na banda.

Formação atual da banda Angra
Formação atual da banda Angra / Créditos: Divulgação

Em 2018 o Angra lançou seu álbum mais recente, chamado ØMNI. A ideia do disco foi conectar todas as histórias contadas em trabalhos anteriores da banda. Ainda nessa divulgação, o grupo realizou um show de gravação do DVD – com a incrível participação da cantora Sandy!

Já nesse ano, Kiko Loureiro e o empresário do Angra, Paulo Baron, anunciaram que André Matos estava planejando uma possível reunião da banda, 20 anos depois. Infelizmente, com a morte do vocalista, esse sonho não foi realizado. 🙁

Melhores músicas do Angra

Não dá pra ficar só na história da banda e não falar das músicas, não é? Pensando nas eras do Angra e no legado de André Matos, selecionamos algumas canções que definem a trajetória musical do grupo. Essa é a nossa lista:

5. Angels Cry

Angels Cry (1993) foi a estreia do Angra para o mundo – um disco gravado inteiramente na Alemanha, em um estúdio dentro de um bunker da Segunda Guerra Mundial. Uma atmosfera dessas deve,  com certeza, influenciar o som, né?

Além disso, o disco contou com um cover da Kate Bush, um trecho de uma sinfonia de Schubert, uma passagem de Vivaldi e um breve arranjo de Asa Branca. Tudo isso em um álbum de uma banda de metal!

Ou seja, nada melhor pra abrir nossa lista que a faixa-título do primeiro álbum, composta pelos membros fundadores, André Matos e Rafael Bittencourt. Vem ouvir Angels Cry:

4. Rebirth

Quarto álbum do Angra, Rebirth (2001) marcou o ressurgimento da banda sob novos ares. Foi um disco também conceitual, que Bittencourt descreveu como uma história a ser interpretada de trás pra frente. Fala sobre um mundo destruído, onde os seres humanos restantes se esforçam para reconstruir a sociedade, dessa vez mais correta e humana.

Nesse contexto, a faixa que leva o mesmo nome é o auge da história: após passar por um julgamento no fim dos tempos, um homem – personagem da narrativa – recebe uma segunda chance. Arrependido de seus pecados, ele está livre para buscar seus objetivos e tentar reconstruir o mundo de uma forma melhor.

Ride the wind of a brand new day (Voo pelo vento de um novo dia)
High where mountain’s stand (Alto aonde as montanhas alcançam)
Found my hope and pride again (Reencontrei minha esperança e orgulho)
Rebirth of a man (Renascimento de um homem)

Pensando, ainda, na história do Angra, o grupo se recuperava dos conflitos e se adaptava aos novos membros. Dá pra relacionar a narrativa da música à trajetória da banda: agora, o grupo tinha uma chance de tentar um futuro com menos brigas, renascida. Vale conferir a tradução completa aqui!

3. Make Believe

O Holy Land (1996), segundo álbum do Angra, foi pensado em torno da história das Grandes Navegações. Assim como no trabalho de bandas como o Iron Maiden, o Angra frequentemente usa mitologias e narrativas históricas em suas músicas.

Foi esse conceito – da exploração portuguesa no Brasil – que permitiu que os músicos explorassem tanto as influências europeias quanto as referências aos índios e ao seu folclore. Legal demais, né?

Nesse contexto, Make Believe foi uma das músicas mais marcantes no disco, que fala sobre ansiedade quanto ao passado e as expectativas para o futuro. É bem lúdica e dá pra sentir esse tom europeu:

2. Deep Blue

Considerada uma das melhores composições de André Matos em seus tempos do Angra, Deep Blue também pertence ao Holy Land. Nela, o vocalista mostra um canto quase lírico, acompanhado por instrumentos tradicionais da música erudita.

A letra, bastante poética, fala sobre os conflitos filosóficos no século XVI. Imagina quantos mistérios o oceano guardava, em um período em que as pessoas não faziam ideia do que existia do outro lado do mar. Surreal, né?

Nesse exercício de imaginar como era o pensamento da época, André canta:

Waiting for someday when the ocean and sky (Esperando por algum dia quando o oceano e o céu)
Will cover up the land in deep blue (Envolverão a terra numa tristeza profunda)
Renaissance is over and I wonder (O renascimento está além e eu pergunto)
Should I close my eyes and pray? (Devo fechar meus olhos e orar?)
Feel like I’ve betrayed? (Sentir como eu se eu tivesse traído?)
Always be the same? No! (Sempre ser o mesmo? Não!)

Ah! É interessante mencionar que deep blue pode significar tanto tristeza profunda quanto azul profundo, que também traz essa ideia de oceano. Essa ambiguidade representa bem o conceito da música.

1.Carry On

Lançada no Angels Cry (1993), Carry On fala sobre a insegurança e a solidão no mundo de hoje. Mas não é uma letra negativa: na voz (e na composição) de André, os versos dizem para desapegar do passado, confiar em si mesmo e seguir em frente:

So carry on, there’s a meaning to life (Então, siga em frente, existe um sentido pra vida)
Which someday we may find (Que algum dia talvez descubramos)
Carry on, it’s time to forget (Siga em frente, é hora de esquecer)
The remains from the past to carry on (Os restos do passado para seguir em frente)

Nesse primeiro trabalho, dá pra sentir bastante a influência da música erudita, gerando o metal melódico que marcou o som do Angra. Com violinos, a voz aguda e outros elementos típicos da música de séculos passados, o som ganha um tom dramático e impactante. Não é à toa que Carry On é considerada um hino da banda:

A evolução do Angra

Deu pra ver como o Angra foi importante para o metal brasileiro? Além de inspirar muuuuitos fãs aqui e no mundo, a banda trouxe influências distintas pra mostrar que o heavy metal pode ser conceitual, diverso e melódico. E nada disso seria possível sem André Matos – por isso, o músico vale toda a homenagem.

Vale demais conhecer o trabalho todo da banda, então vem ouvir nossa playlist A Evolução do Angra!

Playlist A evolução do Angra