8 de Fevereiro de 2025, às 12:00
Você já se perguntou como surgiram os sambas-enredo, a alma dos desfiles das escolas de samba no Carnaval brasileiro? Eles dão ritmo, emoção e identidade aos espetáculos que encantam milhões de pessoas no Brasil e no mundo.

Elemento central na avenida, o samba-enredo é responsável por narrar, em versos e melodias, o tema escolhido por cada escola, conectando o público à história e ao universo cultural que desfila pela avenida.
Surgido nos primeiros anos do Carnaval organizado, esse ritmo evoluiu bastante ao longo das décadas, acompanhando as transformações sociais, culturais e musicais do Brasil. Vem descobrir tudo sobre o tema!
Para compreender como surgiram os sambas-enredo, o melhor caminho é voltar até as origens do Brasil. O Carnaval foi introduzido no país pelos portugueses, ainda no período colonial.
A celebração era diferente, com uma abordagem muito mais religiosa. Isso mudou aos poucos, especialmente a partir do século XIX, quando a folia começou a ganhar características mais próximas das atuais, com o surgimento de desfiles e blocos populares.
O samba urbano carioca nasceu na década de 1910, principalmente nos bairros da Cidade Nova e do Estácio, no Rio de Janeiro, áreas marcadas pela presença de comunidades afrodescendentes.
Esses espaços promoveram a fusão de ritmos e tradições que deram origem ao samba como o conhecemos hoje. A música Pelo Telefone, atribuída a Donga e Mauro de Almeida, foi lançada em 1917 e é considerada o marco inaugural do samba como gênero musical.
Na década de 1920, o samba ganhou força e passou a dialogar diretamente com o Carnaval, culminando no surgimento das primeiras escolas de samba.
A Deixa Falar, fundada em 1928 no bairro do Estácio, é considerada a primeira escola de samba do Brasil e foi pioneira em criar uma nova dinâmica para o Carnaval, organizando desfiles com instrumentos de percussão e letras de samba que refletiam temas específicos.
No entanto, os desfiles eram bem diferentes do que você pode imaginar. As agremiações desfilavam por, no máximo, 15 minutos e não se limitavam a um único samba, encaixando tantas músicas quanto fosse possível em suas apresentações.
Gradativamente, o formato da Deixa Falar deu origem à estruturação de um modelo que seria seguido por outras agremiações, dando início à transformação dos desfiles carnavalescos em espetáculos mais organizados e temáticos.
Essa inovação abriu caminho para a criação do samba-enredo na década de 1930. Assim, os sambas dos desfiles passaram a ser compostos previamente, com base em um tema definido por cada escola.
Isso substituiu as improvisações tradicionais dos “versadores” e consolidou o samba como a trilha sonora oficial do Carnaval brasileiro e um veículo para contar histórias.
Em 1932, ocorreu um novo marco na história do Carnaval: o jornal Mundo Sportivo promoveu o primeiro concurso oficial de escolas de samba, que foi o alicerce da estruturação e profissionalização do Carnaval como o conhecemos hoje.
Os concursos surgiram com o objetivo de organizar os desfiles, até então marcados pela espontaneidade. A competição incentivou as agremiações a criar sambas que narrassem os enredos escolhidos, como elemento central do desfile.
Isso exigia que cada escola selecionasse previamente um tema – ou enredo – e desenvolvesse uma canção capaz de traduzir sua história em música, conectando as diferentes alas e alegorias do desfile.
Esse formato trouxe maior coerência e identidade às apresentações, além de ter destacado a importância do samba como a trilha sonora oficial do Carnaval brasileiro.
É impossível falar sobre como surgiram os sambas-enredo e a profissionalização do Carnaval sem mencionar o governo de Getúlio Vargas, especialmente no contexto das políticas culturais promovidas durante o Estado Novo (1937-1945).
Vargas enxergou no Carnaval, em particular no samba, uma oportunidade de fortalecer uma identidade nacional unificada, alinhada ao seu projeto político de exaltar símbolos e manifestações culturais que representassem o “Brasil autêntico”.
O governo incentivou diretamente a organização e estruturação dos desfiles das escolas de samba, que foram alçados a eventos de grande visibilidade e apelo popular.
Vargas reconheceu o poder do samba como expressão popular e o utilizou como uma forma de se aproximar das massas urbanas, principalmente das classes trabalhadoras e da população negra, protagonistas dessa manifestação cultural.
A partir de então, os sambas-enredo passaram a narrar temas de cunho nacionalista, como figuras históricas, eventos importantes e belezas naturais do Brasil, temas até hoje abordados.
O samba-enredo, já consolidado como um subgênero do samba, se firmou como a alma musical dos desfiles das escolas de samba, com a função de narrar a história ou tema escolhido por cada agremiação para o Carnaval.
Planejado com antecedência, ele une poesia, melodia e emoção para contar uma narrativa, integrando aspectos do samba de terreiro e do samba de partido alto, carregando o peso cultural de representar a mensagem e a identidade de uma comunidade inteira.
O gênero, contudo, foi evoluindo ao longo dos anos. Nas décadas de 1940 e 1950, por exemplo, as temáticas predominantes nos sambas-enredo refletiam o forte viés nacionalista incentivado pelo governo de Getúlio Vargas.
As letras exaltavam figuras históricas, como Tiradentes e Dom Pedro I, celebravam eventos significativos, como a independência e a abolição da escravidão, e homenageavam as riquezas naturais e culturais do Brasil, como o café, o ouro e a Amazônia.
Essas escolhas estavam alinhadas com o projeto político de construção de uma identidade nacional, utilizando o Carnaval como uma vitrine para reforçar valores patrióticos e culturais.
Com o passar do tempo, os enredos dos sambas-enredo evoluíram para abarcar uma maior diversidade temática, acompanhando as transformações sociais e culturais do Brasil.
A partir das décadas de 1960 e 1970, começaram a surgir sambas que abordavam questões sociais, culturais e políticas, muitas vezes trazendo críticas contundentes à desigualdade, ao racismo e à exclusão social.
Essa mudança refletiu o papel do samba-enredo como uma forma de resistência e um espaço de voz para as comunidades que dão vida às escolas de samba.
As músicas também passaram a homenagear personalidades marcantes da história e da cultura brasileira, como artistas, escritores e líderes comunitários.
Hoje, eles também exploram temas universais, como a luta por justiça social, a preservação ambiental, a diversidade religiosa e a valorização da diversidade, transcendendo sua função inicial de mero acompanhamento musical dos desfiles.
Agora que você sabe como surgiram os sambas-enredo, fica ainda mais clara a importância do samba na cultura brasileira. O ritmo virou sinônimo de Brasil, atraindo a atenção de admiradores de todos os cantos e ajudando a definir os rumos da música nacional.
Para saber mais sobre o tema, confira o conteúdo especial sobre a história do samba, patrimônio cultural do Brasil!




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