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Funk e reggaeton: amigos ou rivais?

História da música · Por Felipe de Lima

22 de Março de 2019, às 12:00

Com a explosão do reggaeton mundo afora depois do hit Despacito, de Luis Fonsi e Daddy Yankee, cada vez mais percebemos convergências e semelhanças com o ritmo preferido de grande parte dos brasileiros – o funk carioca.

De Maluma a Anitta, de J Balvin a MC Guimê, artistas hispânicos e brasileiros estão apostando nessa mistura que vem garantindo não apenas likes, mas também muito sucesso.

Mas será que isso é tudo apenas coincidência? Os ritmos realmente se parecem? Que artistas vêm explorando essa mistura? Vem com a gente que essas e outras questões serão respondidas a seguir.

É som de preto, de favelado – a história do funk no Brasil

O funk carioca, mais conhecido apenas como funk, nasceu nas favelas cariocas em meados dos anos 80, com influência direta do Miami bass e do freestyle. Um de seus precursores foi o DJ Marlboro, que afirma que tudo começou em 1982 com o single Planet Rock, do Afrika Bambaataa.

A música misturava o funk de James Brown com a música eletrônica do grupo alemão Kraftwerk, influenciando assim uma geração de músicos a produzir esse novo estilo.

O funk então se popularizou rapidamente entre moradores de comunidades carentes, pois as músicas tratavam de seus cotidianos, abordando a violência e a pobreza, como em Rap da Felicidade, de Cidinho e Doca. Fica claro nessa parte da letra:

Eu faço uma oração para uma santa protetora
Mas sou interrompido a tiros de metralhadora
Enquanto os ricos moram numa casa grande e bela
O pobre é humilhado, esculachado na favela

Mesmo com o estilo caindo nas graças do público, tocando nas rádios e marcando presença em programas de televisão, o funk sempre foi alvo de críticas e censura por parte de uma parcela mais conservadora da sociedade, já que muitas músicas sempre tiveram como inspiração o sexo. Artistas como Mr. Catra exploraram muito esse tema em suas músicas.

Já nos últimos anos, o funk foi “engolido” pelo pop, produzindo uma variedade mais light, mas muito efetiva em conquistar likes e audiência nas plataformas de streaming. Artistas como Anitta, Ludmilla e Kevinho fizeram e fazem muito sucesso com letras mais leves e sem muito apelo sexual. Será que com o reggaeton também foi assim? Continue a ler e confira.

Aproveite para aumentar o volume e dar o play nessa seleção de funk incrível!

E como surgiu o reggaeton?

O reggaeton surgiu na década de 80 nas periferias do Panamá e tem suas raízes nas músicas latina, caribenha e europeia. Seu som deriva do reggae panamenho, influenciado pelo hip hop, pela salsa e pela música eletrônica.

Em sua maioria, as músicas são cantadas em “spanglish” (uma mistura de inglês e espanhol), e possuem letras com conteúdo sexual. Ainda assim, existem temas urbanos, contando as realidades das ruas e das drogas, além da parte que fala de festas e da ostentação.

Durante as décadas de 90 e 2000, difundiu-se por toda a América Latina com hits como Soy de La Calle, de Vico C, La Escuela, de Ruben DJ e Gata Sanduguera, de Mey Vidal. Nomes de peso, como Daddy Yankee, Don Omar, Wisin, Pitbull, Nicky Jam e J Balvin ajudaram na tarefa de tornar o reggaeton popular ao redor de todo o globo, inclusive em terras brasileiras.

Assim como o funk, devido ao forte apelo sexual e temas controversos, o estilo também foi alvo de tentativas de proibições e censuras, principalmente em países mais conservadores. Mas será que essa é a única semelhança entre os estilos? Descubra essa resposta a seguir.

Semelhanças entre o funk e o reggaeton

Além das tentativas de censura e proibição, há outras semelhanças entre os estilos musicais que nos fazem refletir sobre o quanto temos em comum com nossos irmãos latino-americanos.

Ambos os estilos nasceram em comunidades pobres, retratando por vezes a realidade em questão. São músicas que falam constantemente da violência, da pobreza e da vida na periferia de grandes centros urbanos.

Além disso, são estilos muito animados — são músicas de festa —, mas ao mesmo tempo sempre abertos a tratar politicamente de assuntos a que essas comunidades são expostas diariamente.

Em consequência disso, tornou-se uma ótima forma de atrair os jovens para falarem de suas realidades. Os dois estilos musicais sempre serão um canal para se oferecer um futuro na arte para essas crianças e adolescentes.

Mas e a música em si? Será que já misturaram as batidas, os ritmos, as letras, as línguas?

Liquidificador musical: “funketon”, mistura sonora dos dois estilos

O primeiro a misturar os dois estilos foi o MC Papo, com Piriguete, em 2008. De lá para cá, outros artistas se aventuraram também. Em 2015, Tati Zaqui inventou o termo “funketon”, para descrever sua música Água Na Boca, influenciando outros artistas, como MC Guimê, com sua Tá Doidona e MC GW em Ritmo Mexicano.

O pop funk também adorou essa mistura, sendo Anitta uma das grandes responsáveis por difundir o reggaeton em solo brasileiro. A cantora frequentemente lança músicas em espanhol com a pegada do estilo, como em Veneno ou Downtown. No seu último single, Bola Rebola, fica claro que ela também quer misturar todas essas influências.

A mistura foi tanta que sobrou até pro sertanejo. Na parceria de Simone e Simaria com Anitta em Loka, há elementos de ambos os estilos, levando para um público totalmente novo as batidas e sensações do ritmo latino.

E então, você ainda acha que os estilos são tão diferentes assim? Apesar das línguas oficiais não serem as mesmas, parece que há uma comunicação entre eles.

Vem ouvir essa seleção de reggaeton e compare as diferenças e semelhanças!