3 de Novembro de 2025, às 14:59
A biografia de Lô Borges certamente está na estante das memórias dos grandes nomes da música brasileira. Nascido em Belo Horizonte em 1952, o cantor, compositor e guitarrista transformou a MPB nos anos 1970 e se tornou imortal pelo trabalho no Clube da Esquina.

Dono de uma sensibilidade única, Lô foi um dos fundadores do coletivo que nasceu em Minas Gerais ao lado de Milton Nascimento e outros grandes nomes. O trabalho o alçou ao status de um dos principais compositores brasileiros.
Em 2025, o artista lançou o álbum Céu de Giz, seu último trabalho antes da inesperada morte no dia 2 de novembro, aos 73 anos, após um agravamento de saúde. Vem saber tudo sobre a história do Lô Borges!
A biografia de Lô Borges começa em 10 de janeiro de 1952, no bairro de Santa Tereza, em Belo Horizonte. Salomão Borges Filho era o sexto entre 11 irmãos e cresceu em uma casa onde a música fazia parte do cotidiano.
A mãe, Maricota, e o pai, Salomão, cultivavam um ambiente aberto à arte, e as rodas de violão entre os irmãos se tornaram o ponto de partida para o talento que mais tarde encantaria o Brasil.
Santa Tereza foi o primeiro palco daquilo que se tornaria um dos movimentos mais importantes da música popular brasileira: nos anos 1960, Lô e seus amigos se reuniam nas esquinas do bairro para tocar violão, cantar e conversar sobre Beatles, bossa nova e jazz.
Esses encontros simples moldaram o olhar musical de Lô. A realidade de BH naquela época, já efervescente culturalmente, favoreceu a troca de ideias e o surgimento de uma geração de músicos talentosos, que não se contentavam em repetir fórmulas prontas.
Durante uma reforma na casa da família, os Borges se mudaram provisoriamente para o centro da capital mineira, o que transformou o destino de Lô. Foi ali, nas escadas do Edifício Levy, na avenida Amazonas, que ele conheceu Milton Nascimento, então com 20 anos.
A sinergia foi imediata: o garoto curioso, encantado com o som do violão de Milton, acabou ganhando um amigo, um mestre e um parceiro musical. “Você gosta de música, né, menino?”, teria dito Milton. A partir dali, nasceu uma amizade que atravessou décadas.

Pouco tempo depois, outro acaso completou o triângulo que formaria a base do futuro Clube da Esquina: andando pelo centro da cidade, Lô conheceu Beto Guedes, um garoto da mesma idade, que andava de patinete.
O Clube da Esquina nasceu em Belo Horizonte, em meio às ruas tranquilas e poéticas do bairro de Santa Tereza, onde a casa da família Borges era ponto de encontro para músicos, amigos e curiosos.
Ali, jovens se reuniam para tocar violão, conversar sobre música e misturar influências do mundo todo, como Lô Borges e seu irmão Márcio, Milton Nascimento, Beto Guedes, Toninho Horta, Flávio Venturini, Ronaldo Bastos e Fernando Brant.
O que começou como um grupo de amigos com instrumentos e sonhos acabou se tornando um dos movimentos mais originais e influentes da música popular brasileira.
O nome surgiu de forma espontânea. Certa vez, Milton Nascimento apareceu na casa dos Borges procurando por Lô. A mãe respondeu que ele estava “na esquina, num lugar que eles chamam de Clube da Esquina”.
O apelido ficou, e, sem que ninguém planejasse, virou sinônimo de uma revolução musical. Nessas esquinas, nas conversas e nos improvisos, nasceram melodias que ecoariam por gerações.
Em 1972, a energia criativa do grupo se consolidou no álbum Clube da Esquina, lançado pela EMI-Odeon e assinado por Milton Nascimento e Lô Borges.
O disco foi gravado no Rio de Janeiro, com arranjos e participações dos amigos mineiros, e reuniu 22 faixas que sintetizavam o espírito livre e experimental do movimento, misturando rock progressivo, música latina, jazz, psicodelia, sons regionais e poesia mineira.
Das 22 faixas, oito foram compostas por Lô, incluindo clássicos como Paisagem da Janela, Um Girassol da Cor do Seu Cabelo e Clube da Esquina Nº 2.
A parceria com Milton Nascimento foi essencial para o equilíbrio entre juventude e maturidade artística: enquanto Lô trazia a leveza das melodias e harmonias inovadoras, Milton dava corpo, voz e emoção às composições.
O resultado foi um disco à frente do seu tempo, muitas vezes comparado a grandes obras do rock e da música experimental mundial.
Décadas depois, Clube da Esquina seria eleito o maior álbum brasileiro de todos os tempos por críticos e músicos, e também apareceria entre os dez melhores do mundo em rankings internacionais, como o da revista norte-americana Paste Magazine.
O Clube da Esquina não foi apenas um disco, mas um manifesto. Ele mostrou que a música brasileira podia ser múltipla, híbrida e universal sem perder suas raízes.
As letras poéticas e introspectivas falavam de amizade, fé, natureza e liberdade, temas que refletiam o espírito de Minas Gerais, mas também dialogavam com o mundo.
A fusão de estilos e a ousadia nos arranjos abriram caminho para uma nova estética dentro da MPB, que influenciou gerações de artistas como Skank, Nando Reis, Los Hermanos e Milton Nascimento em suas fases posteriores.
O movimento não teve uma estrutura formal nem uma dissolução oficial. Ele se espalhou em carreiras individuais e colaborações contínuas. Mesmo após o auge entre 1963 e 1978, os integrantes seguiram se encontrando e gravando juntos.
O próprio Lô Borges, ainda no mesmo ano do lançamento do Clube da Esquina, lançou seu primeiro disco solo, que ampliou o legado do grupo e confirmou seu talento como compositor independente.
Mais de meio século depois, o Clube da Esquina continua vivo. Ele representa um modo de fazer música que nasce da amizade, da liberdade criativa e da busca por beleza nas pequenas coisas: herança que Lô Borges ajudou a construir.
É impossível falar sobre a biografia de Lô Borges sem mencionar a ligação de com Milton Nascimento, que se fortaleceu nos anos seguintes. Foi o Bituca quem tirou Lô da “esquina”, onde o jovem passava horas dedilhando o violão, e o convidou a dar um passo maior.
Já parceiros em composições como Clube da Esquina e Para Lennon e McCartney, no disco Milton (1970), os dois decidiram se mudar para o Rio de Janeiro para criar algo novo.
Depois de uma fase de instabilidade, mudando constantemente de apartamento, se fixaram em Piratininga, Niterói, onde a convivência intensa deu origem a algumas das mais belas canções da música brasileira.
Foi nesse período que o talento de Lô Borges ganhou forma definitiva. A gravadora Odeon se encantou com suas composições, como O Trem Azul e Um Girassol da Cor do Seu Cabelo, e viu nele um compositor com voz própria.
Em 1972, o jovem mineiro estreou em carreira solo com o disco Lô Borges, conhecido como “Disco do Tênis” por causa da imagem simples de um par de tênis na capa. A obra se tornou um marco de originalidade, unindo poesia, rock e mineiridade.
Apesar do sucesso artístico, Lô resistiu ao papel de astro que o mercado tentava impor. Cansado das pressões da gravadora e do ritmo frenético do Rio de Janeiro, afastou-se temporariamente dos holofotes. O hiato reforçou sua imagem de artista introspectivo.
Em 1979, Lô Borges retornou com o álbum A Via Láctea, uma obra mais madura, reflexiva e emocionalmente densa. Nele, o artista mostrou um domínio maior da composição e da interpretação, com músicas como Equatorial e Vento de Maio.
A crítica reconheceu nesse disco um salto artístico: o garoto prodígio de Santa Tereza havia se transformado em um compositor pleno, capaz de unir técnica, poesia e emoção.
Nos anos seguintes, Lô manteve o mesmo espírito livre que sempre guiou sua criação: em Nuvem Cigana (1982) e Sonho Real (1984), ele continuou a explorar novas sonoridades sem abrir mão da delicadeza mineira que marcava seu estilo.
Durante os anos 1990, Lô Borges lançou apenas um disco, Meu Filme (1996), mas sua influência permanecia viva na música brasileira. Sua obra foi redescoberta por artistas de uma nova geração, que viam nele uma referência de integridade artística.
O ressurgimento veio com força nos anos 2000, quando Lô firmou parcerias com músicos contemporâneos e voltou a compor e gravar com regularidade.
Em 2003, a música Dois Rios, feita em parceria com Samuel Rosa e Nando Reis e lançada pelo Skank, reacendeu o interesse pelo compositor. A canção apresentou o nome de Lô a um público mais jovem e consolidou sua presença na MPB contemporânea.
A partir daí, ele ampliou seu círculo de colaborações, compondo com artistas como Arnaldo Antunes e Tom Zé, e reafirmando sua relevância como criador inquieto e sempre curioso.
Em 2005, Lô Borges conquistou o Grammy Latino de Melhor Álbum de Música Popular Brasileira por Rio da Lua, um trabalho que sintetiza o amadurecimento de sua carreira e a riqueza de sua linguagem musical.
Nos últimos anos, o cantor manteve o ritmo criativo que o acompanhou desde os tempos do Clube da Esquina: a partir de 2019, passou a lançar álbuns inéditos com regularidade, reafirmando sua conexão com a música.
O trabalho mais recente de Lô Borges, Céu de Giz, foi lançado em agosto de 2025, fruto de uma parceria com Zeca Baleiro. O disco foi recebido como uma celebração da sensibilidade que sempre marcou sua obra e acabou se tornando seu último registro em vida.
Ao longo da carreira, Lô Borges foi gravado por nomes como Elis Regina, Tom Jobim, Flávio Venturini, Beto Guedes, 14 Bis, Skank, Nenhum de Nós e Ira!, além de ter deixado clássicos como Paisagem da Janela, O Trem Azul e Um Girassol da Cor do Seu Cabelo.
Além de compositor e intérprete, Lô também construiu uma carreira sólida como artista visual. Criou capas de álbuns e produziu pinturas e desenhos exibidos em galerias e museus, mostrando que sua sensibilidade não se limitava ao som.
Com uma discografia que equilibra invenção e emoção, Lô Borges consolidou um legado que transcende o tempo. Sua música, feita de simplicidade e profundidade, permanece como um convite à contemplação e uma ponte entre o passado e o futuro da MPB.
O capítulo final da biografia de Lô Borges começou a ser escrito em 17 de outubro de 2025, quando o estado de saúde do artista se agravou e ele foi internado em um hospital de Belo Horizonte.
A notícia pegou o público de surpresa. Aos 73 anos, o cantor e compositor mineiro vivia um de seus momentos mais criativos e férteis, tendo lançado dois meses antes o álbum de inéditas Céu de Giz.
Segundo boletins médicos divulgados pela assessoria e pelo Hospital Unimed Contorno, o artista havia sofrido uma intoxicação medicamentosa provocada por remédios tomados em casa.
Com o agravamento do quadro, os médicos decidiram realizar, no dia 25, uma traqueostomia para permitir a respiração.
A intervenção foi bem-sucedida, mas, nos dias seguintes, os boletins indicavam que Lô Borges estava respirando com ajuda de aparelhos e passou por hemodiálise, sob constante monitoramento na UTI.
Na noite do dia 2, Lô Borges faleceu em Belo Horizonte em decorrência de falência múltipla dos órgãos. O hospital confirmou oficialmente a morte, encerrando um período de intensa comoção.
Sua partida marcou o fim de uma era iniciada nas esquinas de Santa Tereza, mas deixou um legado que segue vivo em cada acorde, melodia e lembrança do Clube da Esquina.
Se você gostou de conhecer a biografia de Lô Borges, um dos grandes gênios da música brasileira, não deixe de conferir o conteúdo sobre os maiores compositores do Brasil!





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