Qual a origem das quadrilhas juninas? Conheça a história da festa

Saiba como tudo começou na dança típica das festas juninas e descubra outras curiosidades sobre uma das celebrações mais amadas pelos brasileiros.

Curiosidades · Por Ana Paula Marques

4 de Junho de 2025, às 12:00


Se você tem curiosidade sobre qual a origem das quadrilhas juninas, este artigo foi feito especialmente para você. Aqui, você encontra tudo sobre a história de uma das manifestações culturais mais tradicionais e animadas do Brasil.

Os festejos de São João, Santo Antônio e São Pedro enchem as ruas de cores e música, com direito a lindos trajes, músicas típicas e coreografias divertidas, com danças que movimentam comunidades inteiras, misturando religiosidade, alegria e identidade regional.

Qual a origem das quadrilhas juninas
Créditos: Reprodução/Youtube

Embora hoje sejam símbolo das festas juninas brasileiras, as quadrilhas têm uma origem marcada pela fusão de diferentes influências culturais, remontando à Europa, e neste texto você vai descobrir tudo sobre essa tradição. Vamos lá? 

Entenda qual é a origem das quadrilhas juninas

Para compreender qual é a origem das quadrilhas juninas, é necessário fazer uma viagem no tempo: mais do que um simples espetáculo, são o resultado de um longo processo histórico que mescla tradições europeias, indígenas e africanas. 

Tudo começou na Europa do século XVIII: após meses de inverno rigoroso, a chegada da primavera e, depois, o solstício de verão — o dia mais longo do ano — eram motivos de grandes celebrações.

Essas festas celebravam o renascimento da vida, a fertilidade da terra e a colheita, com muita comida, dança e rituais. Mais tarde, as comemorações foram absorvidas pela Igreja Católica e adaptadas às festividades dos santos populares.

A quadrilha, por sua vez, nasceu na França do século XVIII, onde era conhecida como “quadrille”. Era uma dança de salão composta por quatro casais organizados em formação quadrada, que executavam movimentos coreografados ao som de músicas elegantes.

A chegada ao Brasil e o nascimento de uma tradição

Influenciada pelo country dance inglês, a quadrille se espalhou pela Europa e chegou ao Brasil no início do século XIX, trazida pela corte portuguesa durante o período da Regência (1830 a 1840). 

No início, era dançada apenas pela aristocracia, em salões requintados nas cidades de Salvador e Rio de Janeiro.

Com o tempo, a dança deixou os salões da elite e passou a ser assimilada pelo povo, especialmente no interior do país. A modernização urbana facilitou a difusão da quadrilha pelo país, onde começou a associação às festas juninas. 

Nessas regiões, a quadrilha incorporou elementos culturais locais, como o casamento caipira, a sanfona, os ritmos nordestinos e as temáticas da vida rural. Ao mesmo tempo, foi perdendo suas características originais europeias e ganhando um tom mais regional.

Durante o século XX, esse processo de adaptação foi se intensificando e ganhando uma cara própria.

Um caldeirão de influências, como o próprio Brasil

O Brasil, com sua multiplicidade de povos, línguas, crenças e manifestações, reinventou a dança ao fundi-la com referências locais, tanto do interior quanto das periferias urbanas, do sertão ao litoral.

Da tradição europeia vieram a estrutura coreografada e as formações geométricas; dos povos indígenas, veio a movimentação corporal; das culturas africanas, os ritmos marcantes e a força da expressão musical. 

A quadrilha deixou de seguir os padrões coreográficos rígidos da quadrille francesa e passou a dialogar com ritmos regionais como o baião, o coco, o xaxado, o galope e a marcha, incorporando sanfonas, zabumbas e triângulos. 

Qual a origem das quadrilhas juninas: a reinvenção da dança

Com o passar dos anos, as quadrilhas também ganharam importância econômica e turística: campeonatos e festivais movimentam cidades inteiras, como o São João de Caruaru e Campina Grande, por exemplo. 

A dança também ganhou um caráter cênico mais acentuado, com a introdução do “casamento caipira”, uma encenação teatral que simboliza a união de um casal e a fertilidade da terra e a prosperidade das colheitas. 

No Brasil, essa simbologia foi ressignificada com forte influência do catolicismo popular, sobretudo na figura de Santo Antônio, o “santo casamenteiro”, muito venerado nas festas juninas. 

O casamento caipira encena, com humor e exagero, os costumes do interior do país, destacando trajes típicos, sotaques regionais e figuras estereotipadas como o padre, o delegado e os pais dos noivos. 

Especialmente em tempos de intensa urbanização e de migração do campo para a cidade, como ocorreu a partir da década de 1950, a quadrilha passou a ser vista como uma forma de preservar memórias rurais e modos de vida ameaçados pela modernização. 

As festas nas cidades mantiveram viva a tradição da quadrilha, mesmo que adaptada aos contextos urbanos, com iluminação elétrica, palcos e festivais competitivos. 

O que começou como uma contradança aristocrática, hoje é um símbolo de pertencimento, resistência cultural e festa popular, mostrando como o Brasil soube transformar influências estrangeiras em algo profundamente seu, com sotaque, gingado e alma brasileira.

Como é a estrutura das quadrilhas juninas?

A quadrilha junina segue uma organização própria, que combina elementos fixos com a criatividade dos grupos participantes. 

A principal característica é a formação em pares, que se posicionam lado a lado para executar uma coreografia sincronizada. Essa disposição representa os bailes campestres, inspirados nas danças de salão europeias e adaptados ao contexto rural e festivo do Brasil.

No centro da dinâmica está o marcador, um “mestre de cerimônias” — que pode estar presente ou representado pela voz —, responsável por orientar os dançarinos com comandos verbais — sempre com muito humor, sotaques regionais e expressões típicas. 

Frases como “Anarriê” (do francês “en arrière”, ou “para trás”), “Alavantú” (“de en avant”, ou “para frente”), “Olha a chuva!” e “Olha a cobra!” funcionam como instruções performáticas e cômicas que organizam os movimentos e envolvem o público com descontração. 

A coreografia mistura passos ritmados, giros, trocas de pares, caminhadas em círculo e movimentos de conjunto, como a “grande roda”, “o túnel”, “a ponte”, “o passeio dos noivos” e a “fila indiana”. 

Em muitas quadrilhas contemporâneas, especialmente nas competições e festivais, as coreografias são mais elaboradas, incluindo elementos de dança moderna, acrobacias, encenações teatrais e figurinos cenográficos, sem perder o vínculo com as raízes juninas.

Quais são os outros símbolos das quadrilhas juninas?

Além da dança, o figurino é outro aspecto central e altamente simbólico da quadrilha. Os trajes dos participantes remetem à vida no campo, inspirando-se no estereótipo do caipira ou sertanejo. 

Em geral, as mulheres usam vestidos rodados e coloridos, com rendas, babados e estampas florais ou xadrez, geralmente acompanhados de tranças no cabelo, chapéus de palha e maquiagem que imita sardas ou bochechas rosadas. 

Os homens, por sua vez, vestem calças remendadas, camisas xadrez, suspensórios, lenços no pescoço e chapéus de palha, além de bigodes desenhados com lápis ou tinta. 

O exagero e a comicidade dos trajes ajudam a reforçar o caráter lúdico e festivo da quadrilha, ao mesmo tempo em que homenageiam a figura do homem e da mulher do campo.

Um dos pontos altos da festa é a encenação do casamento caipira, um momento teatral que envolve personagens como os noivos, o padre, os pais da noiva e o delegado, sempre com um tom cômico, exagerado e, muitas vezes, improvisado. 

A encenação simboliza a união amorosa entre o casal e a celebração da fertilidade, da família e da continuidade das tradições.

Uma tradição que veio para ficar

Tradição presente no Brasil há mais de um século, as quadrilhas juninas certamente vieram para ficar e já fazem parte da cultura do país. 

Em 2024, um passo importante foi dado nesse sentido: as quadrilhas foram reconhecidas pelo governo brasileiro como manifestação cultural nacional.

Isso coroou séculos de resistência cultural com origem europeia e moldada por elementos afro-brasileiros, indígenas e nordestinos, consolidando a quadrilha como um símbolo de identidade cultural coletiva.

O cenário segue diverso: hoje, existem desde as chamadas “quadrilhas estilizadas”, que elevam a manifestação a um patamar artístico elevado, a “quadrilhas tradicionais”, que mantêm vivo o espírito comunitário e festivo da dança.

As quadrilhas também se tornaram agentes da promoção da diversidade e da inclusão. Em muitas cidades, surgiram grupos formados por pessoas LGBTQIAPN+, opções para todas as faixas etárias e iniciativas que incentivam a participação de pessoas com deficiência. 

No fim das contas, independentemente de qual a origem das quadrilhas juninas, a dança se tornou um elo entre o passado e o presente, entre a tradição e a inovação, entre o sagrado e o profano, como um testemunho vivo da capacidade do povo brasileiro de criar beleza.

As melhores músicas de festa junina

Agora que você conhece qual a origem das quadrilhas juninas, entre no ritmo do São João, com a seleção que preparamos com as melhores músicas de festa junina!


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