Análise do samba-enredo da Imperatriz Leopoldinense em 2025

Saiba tudo sobre o samba-enredo que é a aposta da escola de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro para o Carnaval deste ano.

Analisando letras · Por Ana Paula Marques

14 de Fevereiro de 2025, às 12:00


Preparamos uma análise completa do samba-enredo da Imperatriz Leopoldinense em 2025 para te mostrar o que uma das mais tradicionais escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro está reservando para a avenida.

samba-enredo da Imperatriz Leopoldinense 2025
Créditos: Reprodução / Youtube

A Imperatriz Leopoldinense construiu uma história marcada por desfiles grandiosos e enredos históricos, que já lhe renderam nove títulos no Carnaval do Rio, além do vice-campeonato em 2024.

A verde e branco de Ramos vai levar à Sapucaí um enredo que mergulha nas raízes da ancestralidade africana e na riqueza do candomblé, com o título Ómi Tútu ao Olúfon – Água Fresca para o Senhor de Ifón

Continue lendo para saber mais sobre o enredo!

Imperatriz Leopoldinense 2025: análise do samba-enredo

Logo de cara, a análise do samba-enredo da Imperatriz Leopoldinense em 2025 mostra que a escola levará para a Sapucaí um resgate da sua própria história. 

A agremiação não canta a história de um orixá desde 1979 e optou por mostrar na avenida toda a profundidade da mitologia afro-brasileira e da espiritualidade do candomblé

Ómi Tútu ao Olúfon – Água fresca para o senhor de Ifón foi desenvolvido pelo carnavalesco Leandro Vieira para narrar a jornada de Oxalá ao reino de Oyó para visitar Xangô, um caminho repleto de desafios e encontros simbólicos. 

Além de ser um espetáculo visual e musical, o enredo reforça a conexão entre o samba e as raízes africanas da cultura brasileira, com uma narrativa que exalta a ancestralidade e a espiritualidade.

A Imperatriz promete emocionar o público ao apresentar rituais, cores e símbolos sagrados do candomblé, proporcionando um mergulho profundo na cosmovisão iorubá.

A história por trás do enredo da Imperatriz

O enredo da verde e branco foi inspirado em um tradicional itã – relato ancestral da cultura iorubá –, destacando valores fundamentais como a humildade, o respeito e a sabedoria popular.  

A peregrinação de Oxalá, associado à criação e à serenidade, encontra percalços que testam sua resistência e paciência. No trajeto, ele cruza com Exú, orixá mensageiro, conhecido por sua dualidade e papel fundamental na comunicação entre os mundos. 

Esse encontro representa um dos ensinamentos centrais do Itã: nenhum poder é absoluto, e todos devem se curvar diante da sabedoria e experiência. 

O desenvolvimento do enredo reflete a riqueza simbólica dessa tradição oral, trazendo para a Sapucaí um conto que ultrapassa a simples representação de personagens mitológicos. 

Ele resgata a essência dos ensinamentos ancestrais e reforça a importância da harmonia entre forças opostas, conceito fundamental dentro do candomblé, dialogando com movimentos de valorização da cultura negra e das tradições religiosas de matriz africana.

Análise da letra do samba-enredo da Imperatriz Leopoldinense em 2025

O samba-enredo Ómi Tútu ao Olúfon – Água Fresca Para o Senhor de Ifón traduz com poesia e profundidade a grandiosidade idealizada pelo carnavalesco Leandro Vieira para colocar a Imperatriz mais uma vez entre as campeãs do Rio. 

Assinado pelos compositores Me Leva, Thiago Meiners, Miguel da Imperatriz, Jorge Arthur, Daniel Paixão e Wilson Mineiro, o samba se estrutura como um verdadeiro cântico de louvor, evocando a espiritualidade e a ancestralidade da cultura iorubá.  

Desde os primeiros versos, a composição estabelece a atmosfera sagrada da narrativa ao invocar Oxalá, orixá associado à criação, à paz e à sabedoria. 

Vai começar o Itan de Oxalá

Segue o cortejo funfun ao Senhor de Ifón, Babá

A menção ao cortejo “funfun” – termo iorubá que significa “branco” – reforça a pureza e a serenidade do orixá. Assim, a escolha de cada palavra e a cadência do samba remetem aos cânticos sagrados do candomblé e ao tom litúrgico dos relatos mitológicos africanos.  

A letra prossegue com a referência ao Alafin de Oyó, título de realeza na antiga cidade-estado de Oyó, enfatizando a grandeza da civilização iorubá e sua influência histórica. 

Orinxalá, destina seu caminhar

Ao reino do quarto Alafin de Oyó

Alá, majestoso em branco marfim

Na sequência, a canção menciona uma consulta ao Ifá, um sistema de adivinhação conduzido pelos babalaôs que aponta a importância dos presságios e do respeito às orientações espirituais. 

O destino, implacável para aqueles que desconsideram a sabedoria ancestral, é representado poeticamente na letra, ressaltando a visão cíclica da vida presente nas tradições africanas.  

Consulta o Ifá e assim

No Odú, o presságio cruel

Negando a palavra do babalaô

Soberano em seu trono, o senhor

Vê o doce se tornar o fel

Os orixás guiando a Imperatriz na avenida

Outro momento marcante do samba é a menção a Exú, o mensageiro entre os mundos, responsável por abrir caminhos, mas também por testar a paciência e a fé dos que cruzam seu trajeto. 

A presença desse orixá simboliza a dualidade da existência, em que caos e ordem coexistem, e sua interação com Oxalá ensina que até os mais sábios precisam se curvar diante dos desafios e aprender com as provações impostas pelo destino.  

Ofereça pra Exú, um ebó vai proteger

Penitência de Exú, não se deixa arrefecer

Ele rompe o silêncio com a sua gargalhada

É cancela fechada, é o fardo de dever

A narrativa atinge seu ápice com a evocação de Xangô, orixá da justiça e do trovão, cuja presença sugere o equilíbrio e a necessidade de reparação dos erros. 

A “água fresca” do título assume um papel simbólico de purificação e renovação, marcando o momento em que a jornada de Oxalá encontra redenção e harmonia. 

Justiça maior é de meu Pai Xangô

Traz água fresca pra justiça verdadeira

Justiça maior é de meu Pai Xangô

Meu Pai Xangô mora no alto da pedreira

O samba se encerra exaltando o axé, a energia vital que permeia os rituais e os ensinamentos nagôs, reforçando a importância da fé e da conexão com o sagrado.  

Oní sáà wúre! Awure awure!

Quem governa esse terreiro ostenta seu adê

Ijexá ao pai de todos os oris

Rufam atabaques da Imperatriz

A expressão acima vem do iorubá e pode ser traduzida como “senhor do tempo/existência, rogamos bênçãos e axé”.

No fim das contas, a análise mostra que o samba-enredo da Imperatriz Leopoldinense para 2025 é uma ode inspiradora à ancestralidade africana e à força do candomblé, com uma construção poética que faz dele uma celebração da cultura e da espiritualidade afro.

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