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Samba-enredo da Mangueira em 2022: entenda a letra e as referências

Analisando letras · Por Camila Fernandes

8 de Fevereiro de 2022, às 12:00

Os desfiles das escolas de samba podem até ter sido adiados em 2022, mas a magia do carnaval já começou. Enquanto o dia oficial não vem, dá tempo de ficar por dentro dos enredos que estarão brilhando na avenida em abril.

As composições sempre chamam atenção, e neste ano não foi diferente. O samba-enredo da Mangueira para 2022, por exemplo, trouxe três nomes que despertaram a curiosidade dos ouvintes.

Samba enredo da Mangueira 2022
Créditos: Divulgação

Quem conhece a Estação Primeira de Mangueira sabe bem que a escola adora usar seus sambas para homenagear grandes nomes da história. Em 2019, por exemplo, a Mangueira trouxe nomes de negros e indígenas esquecidos na história do Brasil. 

Já em 2020 a escola lembrou as origens humildes de Jesus Cristo para falar sobre como seria a vida dele se retornasse nos dias atuais, no morro da Mangueira. E para esse ano, que referências a Estação Primeira traz? Vem com a gente conferir a análise do samba-enredo da Mangueira de 2022!

Análise do samba-enredo da Mangueira 2022

Em 2022, a Mangueira decidiu olhar para dentro: o samba traz história mais uma vez, destacando nomes importantes da própria trajetória da escola. Fundada em 1928, a verde e rosa está prestes a completar 94 anos de história, e coleciona 20 títulos de campeã do carnaval carioca. 

Bandeira GRES. Primeira de Mangueira
Bandeira da Mangueira / Créditos: Divulgação

A composição escolhida para este ano é uma parceria entre Moacyr Luz, Pedro Terra, Bruno Souza e Leandro Almeida, que faleceu em 2021, um dia depois de ver seu samba sendo eleito para guiar o desfile da escola no carnaval 2022. 

Mas se você pensa que os nomes de mais destaque nesse samba são os compositores, está muito enganado. O título já diz: Angenor, José e Laurindo são os homenageados da vez.

Pode ser difícil reconhecê-los pelo primeiro nome, mas é só acompanhar a letra e com certeza você vai saber quem são esses homens que fizeram história na Mangueira.

Angenor, o maior compositor da Mangueira

Angenor de Oliveira era servente de pedreiro no Morro da Mangueira, e usava sempre um chapéu coco para se proteger do sol e do cimento nas obras. O adereço rendeu o apelido com o qual ficaria conhecido por todo o Brasil: Cartola

Cartola
Créditos: Divulgação

Foi no morro que ele conheceu os fundadores da Estação Primeira de Mangueira, se apaixonou pelo samba e se tornou um dos maiores sambistas da música brasileira. A primeira estrofe do enredo homenageia a poesia de Cartola, que é também a poesia da Mangueira. 

Mangueira teu cenário é poesia
Liberdade e autonomia
Que o negro conquistou
Mangueira a alvorada anuncia
O legado a dinastia
A sabedoria se chama Angenor

A letra lembra como o samba foi (e é) importante nas conquistas dos habitantes do morro. Símbolo de resistência, por muito tempo discriminado e até criminalizado, o samba conquistou seu espaço como importante manifestação cultural, e trouxe junto com ele a história dos negros que construíram sua história na música, como o próprio Cartola.

Cartola na Mangueira
Créditos: Divulgação

Os três reis do carnaval

A estrofe seguinte faz referência aos três homenageados: um cantor, um mestre-sala e um compositor, mas que também foram um engraxate, um vendedor de jornal e um servente de pedreiro.

Contrariando as expectativas, esses três homens negros e pobres se tornaram reis do carnaval e ajudaram a construir no morro o solo sagrado da Mangueira.

Nesse solo sagrado o samba ecoou
Tem cantor, mestre-sala e compositor
Lustrando sapato, vendendo jornal
Chapéu de pedreiro no mesmo quintal
Três iluminados reis do carnaval

Na terceira estrofe temos uma referência a um dos maiores sucessos de Cartola, As Rosas Não Falam. Em seguida, a letra traz os nomes dos outros dois homenageados: Laurindo e José Clementino.

As rosas não falam, mas são de Mangueira
Eu vi seu Laurindo beijando a bandeira
José Clementino na flor da idade
O Sol colorindo a minha saudade

Delegado e Jamelão

Laurindo é Hélio Laurindo da Silva, o Delegado — ninguém menos que o maior mestre-sala do carnaval carioca. Nascido e criado no Morro da Mangueira, não demorou a se apaixonar pelo samba da escola que crescia ali. 

Delegado, da Mangueira
Créditos: Divulgação

Mais jovem entre os três homenageados, estreou na avenida como mestre-sala em 1948, aos 26 anos de idade, ao lado de outro ícone do carnaval carioca, a porta-bandeira Nininha Xoxoba.

Durante os 36 anos em que desfilou como mestre-sala da Mangueira, Delegado nunca ganhou nota menor que 10. Mesmo nos anos em que a escola não levou o título, ele seguiu abrilhantando a avenida e recebendo nota máxima pela performance impecável.

O terceiro nome a aparecer na letra é de José Bispo Clementino dos Santos, o Jamelão, que deu voz aos sambas da Mangueira durante 57 anos. A voz forte do cantor se tornou marca da escola, que ele assumiu como intérprete principal em 1952. 

Jamelão, da Mangueira
Créditos: Divulgação

O sambista foi voz da Mangueira em 13 dos 20 carnavais dos quais a escola foi campeã. Até hoje, Jamelão é o cantor que ficou mais tempo como voz principal da Estação Primeira de Mangueira.

Reverência à história da escola

Nas duas últimas estrofes, o samba-enredo reverencia a história da escola — afinal, os três homenageados são parte da trajetória da Mangueira, assim como ela é parte importante na história deles. 

É verde e rosa a inspiração
A devoção por toda nossa raiz
Quem traz a cor dessa nação
Sabe que o morro é um país

Ressaltando as cores tradicionais da Estação Primeira, que a acompanham desde o começo, a letra faz referência ao grande complexo que é o Morro da Mangueira, hoje formado por várias comunidades: uma verdadeira nação. Quem traz a cor da escola no coração, sabe da grandiosidade do morro.  

Brasão da GRES. Primeira de Mangueira
Brasão da Mangueira / Créditos: Divulgação

A voz do meu terreiro
Imortaliza o samba
E quem guardou com amor o nosso pavilhão
Tem aos seus pés a nossa gratidão

Por fim, chegamos ao refrão do samba, que resume o sentimento trazido no restante da letra: a Mangueira é um céu cheio de estrelas, é cheia de grandes nomes que brilharam na história, e cheia de sambistas apaixonados pela história consagrada da verde e rosa.

Só sei que Mangueira é um céu estrelado
Não é brincadeira sou apaixonado
A Estação Primeira relembra o passado
Valei-me Cartola, Jamelão e Delegado

Mais sambas-enredo pra você

E aí, gostou de saber mais sobre o samba-enredo da Mangueira? Apostamos que você não quer perder nada do desfile.

Para te ajudar com isso, listamos os significados dos principais sambas-enredos de 2022! Confira:

sambas-enredo 2022

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