27 de Fevereiro de 2025, às 12:00
O que você acha de conferir uma análise completa do samba-enredo da Mangueira para 2025? Poucas escolas carregam tanta tradição quanto a Estação Primeira de Mangueira, e a agremiação vai com tudo para tentar seu 21° título no Carnaval carioca.

A verde e rosa é conhecida por seu compromisso com enredos que exaltam a cultura brasileira e resgatam memórias fundamentais da história do país, e é por isso que vai apostar no samba À Flor da Terra, no Rio da Negritude entre Dores e Paixões.
A agremiação – que será a última a desfilar no domingo (2 de março) – vai celebrar a influência dos povos bantus e africanos, que foram fundamentais na formação da identidade carioca, prometendo um desfile grandioso. Continue lendo para saber mais!
O samba-enredo da Mangueira em 2025 vai levar para a Marquês de Sapucaí uma poderosa celebração da herança bantu e de sua influência na construção cultural e social do Rio de Janeiro.
Com À Flor da Terra – No Rio da Negritude Entre Dores e Paixões, a verde e rosa propõe um resgate histórico que dá protagonismo a milhões de africanos que desembarcaram no Cais do Valongo, trazendo consigo tradições que moldaram a identidade carioca.
O desfile será uma homenagem à força, à dor e à paixão dos povos bantus, destacando sua importância na formação da cidade e recontando histórias que foram, por muito tempo, silenciadas.
Os povos bantus compõem um dos maiores agrupamentos linguísticos da África e foram a maioria dos africanos trazidos ao Brasil em condição de escravização.
No Rio de Janeiro, sua chegada pelo Cais do Valongo marcou o início de uma trajetória de lutas, adaptações e resistência, que transformou profundamente a vida na cidade.
As crenças religiosas, os rituais, as músicas e os modos de organização social dos bantus ecoam até hoje nas práticas culturais do povo carioca, desde os terreiros até o samba.
O enredo da Mangueira busca ir além do olhar tradicionalmente voltado para a herança nagô-iorubá, lançando luz sobre as contribuições dos bantus na concepção de mundo, na forma de viver e se relacionar com o território.
O desfile no domingo de Carnaval trará a ressignificação da expressão “à flor da terra”, exaltando a vivência negra no solo carioca, que floresce apesar das dores e das tentativas de apagamento.
A narrativa desenvolvida pelo carnavalesco Sidnei França mergulha na dualidade que permeia a experiência bantu no Rio: a dor da diáspora forçada e da opressão, mas também a paixão e a vitalidade que marcaram suas expressões culturais.
O desfile da Mangueira irá destacar como essa população se estabeleceu na cidade, interagindo com diferentes religiões e costumes, construindo novas formas de sociabilidade e resistência.
O batuque dos tambores, os ritos ancestrais e as manifestações artísticas dos bantus ganharão vida na Sapucaí, transformando o desfile em um ato de celebração e memória.
Com a energia pulsante de sua comunidade e um compromisso inegável com a resistência cultural, a Mangueira mais uma vez reafirma seu papel de escola engajada, trazendo para a avenida uma homenagem inesquecível à ancestralidade negra.
O samba-enredo da Mangueira se apresenta como uma manifestação de ancestralidade, resistência e identidade negra.
Composta por Lequinho, Júnior Fionda, Gabriel Machado, Júlio Alves, Guilherme Sá e Paulinho Bandolim, a letra traduz, de forma poética e simbólica, a trajetória e a contribuição do povo Bantu na construção do Rio de Janeiro e da cultura brasileira.
A introdução do samba já evidencia uma forte presença dos elementos africanos, evocando Oyá (Iansã), a orixá dos ventos e das tempestades, associada à força e à transformação.
Oya, Oya, Oya ê
Oya Matamba de kakoroká zingue
Oya, Oya, Oya ê ô
Oya Matamba de Kakoroká zingue ô
O canto invoca essas potentes figuras, estabelecendo a conexão entre espiritualidade, ancestralidade e cultura afro-brasileira e exaltando o samba como herdeiro e transmissor dessa história.
No enredo, a Mangueira se coloca como a voz dos excluídos, dos que fizeram da favela um espaço de cultura e sobrevivência.
Sou a voz do gueto, dona das multidões
Matriarca das paixões, Mangueira
O povo banto que floresce nas vielas
Orgulho de ser favela
Essa personificação da escola como uma “matriarca” resgata a ideia das mulheres negras como pilares da comunidade, seja na história, seja na religião, seja no próprio samba.
Outro momento impactante do samba é a alusão à trajetória dos negros africanos trazidos ao Brasil, lembrando a dolorosa travessia atlântica e a luta constante dos povos Bantu para manter viva sua identidade.
Sou Luanda e Benguela
A dor que se rebela, morte e vida no oceano
Resistência quilombola
Dos pretos novos de Angola
De Cabinda, suburbano
Tronco forte em ribanceira
O samba ainda enaltece as manifestações culturais de matriz africana que sobrevivem no Brasil, como o jongo, a capoeira e os tambores do Congo, exaltando a presença e a contribuição do povo Bantu.
Ê malungo, que bate tambor de Congo
Faz macumba, dança jongo, ginga na capoeira
Ê malungo, o samba estancou teu sangue
De verde e rosa, renasce a nação de Zambi
A palavra “malungo”, usada pelos negros escravizados para se referir a seus irmãos de dor, reforça a irmandade e a luta compartilhada.
A análise do samba-enredo da Mangueira 2025 também revela o protagonismo da religião na cultura bantu, fazendo referência ao Candomblé de Angola e à influência dos inquices (divindades dessa tradição).
Bate folha pra benzer, Pembelê, Kaiango
Guia meu camutuê, Mãe Preta ensinou
Bate folha pra benzer, Pembelê, Kaiango
Sob a cruz do seu altar, inquice incorporou
O trecho acima também sugere o papel das “Mães Pretas”, mulheres que transmitiram saberes e espiritualidade ao longo das gerações.
A sonoridade do samba é marcada por ritmos que remetem à percussão afro-brasileira, com referências ao tambor e aos toques angolanos, criando uma fusão entre o passado e o presente.
O samba também denuncia o racismo e a marginalização da cultura negra, com uma crítica à criminalização histórica da população negra, seja pelas leis contra a vadiagem no pós-abolição, seja pelo preconceito estrutural que persiste.
Forjado no arrepio
Da lei que me fez vadio
Liberto na senzala social
Malandro, arengueiro, marginal
A composição ainda toca na questão da apropriação cultural, criticando como elementos da cultura negra, antes marginalizados, são hoje celebrados.
Denuncia-se como o samba e outras manifestações negras foram combatidas, mas agora são adotadas pela sociedade sem o devido reconhecimento histórico.
Meu som, por você criticado
Sempre censurado pela burguesia
Tomou a cidade de assalto
E hoje, no asfalto
A moda é ser cria
Quer imitar meu riscado
Descolorir o cabelo
Bater cabeça no meu terreiro
A conclusão do samba reafirma a celebração da vida e a continuidade da história negra na cidade do Rio de Janeiro, mostrando que a ancestralidade negra não apenas resiste, mas continua moldando a cultura carioca e brasileira.
Se você gostou da análise sobre o samba-enredo da Mangueira em 2025, aproveite para conferir o conteúdo sobre como surgiram os sambas-enredo, estilo musical que ajudou a definir o formato do Carnaval como hoje o conhecemos!





Curta as suas músicas sem interrupções
Pague uma vez e use por um ano inteiro
R$ /ano
Use o Letras sem anúncios.
R$ /ano
Benefícios Premium + aulas de idiomas com música.
Já é assinante? Faça login.