Highway 61 Revisited

Contradições e ironia em “Highway 61 Revisited” de Bob Dylan

Em “Highway 61 Revisited”, Bob Dylan transforma a famosa rodovia americana em um cenário onde situações absurdas, dilemas morais e encontros improváveis se desenrolam. Logo no início, Dylan reinterpreta o sacrifício de Isaac, colocando Deus e Abraão em um diálogo quase cômico, no qual o local do sacrifício é transferido para a Highway 61. Essa escolha tem peso simbólico: a estrada representa tanto uma rota de fuga quanto um espaço de transformação, especialmente para afro-americanos que migravam do sul dos Estados Unidos em busca de novas oportunidades, refletindo o contexto histórico da rodovia.

Cada estrofe apresenta personagens excêntricos, como Georgia Sam e Mack the Finger, todos com problemas que acabam sendo "resolvidos" na Highway 61. A estrada se torna um lugar onde tudo pode acontecer, desde o tráfico de objetos estranhos até discussões sobre identidade e até mesmo a criação de uma nova guerra mundial, sempre com um tom irônico e surreal. O uso do apito de sirene no lugar da tradicional harmônica reforça a sensação de urgência e caos. No fundo, Dylan sugere que a Highway 61 é um símbolo da América em constante movimento, cheia de contradições, oportunidades e absurdos, onde as regras tradicionais não se aplicam e tudo pode ser reinventado.