Joey

Contradições e humanidade em "Joey" de Bob Dylan

Em "Joey", Bob Dylan e Jacques Levy optam por retratar Joseph "Crazy Joe" Gallo como uma figura complexa, desafiando a visão tradicional de criminosos notórios. A letra constrói uma narrativa que destaca tanto a humanidade quanto as contradições do mafioso. Um exemplo disso aparece quando a música mostra a relutância de Joey em portar armas nos últimos anos: “I'm around too many children, he'd say / They should never know of one” (Estou cercado de muitas crianças, ele dizia / Elas nunca deveriam saber de uma). Também é ressaltada sua tentativa de proteger a família durante o ataque fatal, reforçando a imagem de Gallo como um azarão e um herói trágico aos olhos de Dylan. Essa abordagem gerou críticas por supostamente romantizar um personagem real envolvido em crimes graves, trazendo uma ambiguidade moral à canção.

A música alterna entre fatos históricos e uma atmosfera quase mítica, como no verso “King of the streets, child of clay” (Rei das ruas, filho do barro), que sugere tanto a posição marginal de Joey quanto sua vulnerabilidade. O refrão questiona o motivo de sua morte violenta, enquanto a narrativa detalha episódios de lealdade, injustiça e busca por redenção, como o período em que Joey esteve preso em Attica e se aproximou de outros marginalizados, lendo autores como Nietzsche e Wilhelm Reich. A canção termina com um lamento coletivo, mostrando o impacto de sua morte no Brooklyn e sugerindo, na última estrofe, uma esperança de justiça divina. "Joey" se destaca por misturar realidade e lenda, levando o ouvinte a refletir sobre as fronteiras entre vilania e heroísmo.