Murder Most Foul

O impacto cultural e histórico em "Murder Most Foul" de Bob Dylan

Em "Murder Most Foul", Bob Dylan utiliza o assassinato de John F. Kennedy como ponto central para discutir uma ruptura profunda na sociedade americana. O título faz referência direta a Shakespeare, sugerindo que o crime não foi apenas político, mas um evento quase mítico, capaz de abalar os alicerces do país. Dylan descreve Kennedy como um "sacrificial lamb" (cordeiro sacrificial), conduzido ao abate, e chama o assassinato de "the greatest magic trick ever under the Sun" (o maior truque de mágica já feito sob o Sol), destacando o caráter chocante e teatral do acontecimento. A letra sugere a existência de uma conspiração, mencionando dívidas não pagas e a rápida substituição do presidente, o que aponta para a atuação de forças ocultas e interesses maiores por trás do crime.

A canção vai além do fato histórico ao entrelaçar referências a artistas, músicas e eventos marcantes, como Beatles, Charlie Parker, Woodstock e Altamont. Dylan constrói um retrato da cultura americana marcada pelo trauma, indicando que o assassinato de Kennedy simbolizou o fim de uma era de inocência e o início de uma decadência nacional: "the soul of a nation been torn away / And it's beginning to go into a slow decay" (a alma de uma nação foi arrancada / E está começando a entrar em uma lenta decadência). Ao citar frases como "Don't ask what your country can do for you" (Não pergunte o que seu país pode fazer por você) e "Dealey Plaza, make a left-hand turn" (Dealey Plaza, vire à esquerda), Dylan conecta a narrativa diretamente ao contexto do crime. As múltiplas referências culturais funcionam como um lamento coletivo, mostrando como a cultura buscou consolo e sentido após a tragédia, e como esse evento moldou a identidade e a memória dos Estados Unidos.