exibições de letras 35

Doador de Transplante

Bugre do Carró

Letra

    Fui visitar meu compadre que tava hospitalizado
    Malecho de tanto comer mondongo azedo e tripa sapecada
    Fiquei muito comovido
    Com as coisa que eu vi por lá
    Mas por ser índio resolvido
    Me prontifiquei a ajudar

    Fui visitar meu compadre
    Que tava hospitalizado
    Fiquei muito impressionado
    Com as coisas que eu vi por lá

    Vi muita gente sofrendo
    Uns chorando, outros gemendo
    Fiquei triste comovido
    E por ser índio resolvido
    Me prontifiquei a ajudar

    Perguntei pro seu doutor
    Me diga falando sério
    Como pode este gaudério
    Ajudar esse vivente

    Perguntou o que que eu fazia
    Só pra ter uma informação
    Canto verso bem rimado
    Toco gaita de teclado
    E a oito soco de botão

    Fui ginete domador
    Sou gaiteiro e cantador
    Mas ganho pouco pra me sustentar
    Trabalhei fiz o que pude
    Hoje só tenho resto de saúde
    E agora como eu posso lhe ajudar?

    O doutor foi me falando
    Para ajudar um semelhante
    É ser doador de transplante
    Esta é tua grande valia

    Mas se é fraco e carunchado
    Não pode ser doador
    Eu disse fique a vontade
    E o que achar de utilidade
    Doarei então seu doutor

    Me focou uma lanterna nos zóio
    Pra mode ser examinado
    Vi os defeito relatado
    Por um doutor competente

    As bulitas estão licadas
    Pra transplante não dá pé
    Vermelha de borracheira
    Só serve pra sinaleira
    Ou lanterna de cabaré

    E o doutor e examinando
    Foi perguntando o que eu sentia
    Tenho pouca coisa pra me queixar
    Eu só ando com os dois quarto frouxo
    Na minha cabeça tem uma cachoeira
    Que não cessa noite e dia
    As minhas cadeira seu doutor
    Ringe mais que moenga de engenho
    Numa seca de agosto

    Examinou meu pulmão
    Com a tal radiografia
    Para ver a anatomia
    E o desempenho da função
    Me diz que ouviu mais de mil grilos
    Numa zueira infernal
    Ronco, chiados e quichos
    Como um bando de pelinchos
    Pulando num taquaral

    Tem mais pra cá o coração
    O que cruza no cemitério
    É um problema muito sério
    De difícil solução
    As coronária entupida
    Não dá mais pra destrancar
    As artérias estão torta
    E a junta da veia aorta
    Não para de trepidar

    Ando aguentando seu doutor por que sou taura
    E já ando curtido pelos trompassos da vida
    Que por maus tratos de percantas esnobes
    E de chinas mal agradecidas

    Para transplante renal
    O meu rim foi avaliado
    E depois de bem testado
    Veio a sentença final
    Já não tem mais competência
    Não cumpre mais seu papel
    Tem mais pedras encravadas
    Do que as paredes somadas
    Das torres de São Miguel

    Me estaqueou de perna aberta
    Que nem forca de bodoque
    Pra fazer o tal de toque
    É aí que a coisa aperta
    Vi um dedo grosso safado
    Igual pescoço de socó
    Falei desculpe enfermeira
    Mas aqui nessa porteira
    É via de uma mão só

    E o doutor foi me explicando
    Relatando tudo o que eu sentia

    Tu já anda sucateado
    Que nada mais se aproveita
    Tua vida é curta e estreita
    Que nem borrego embretado

    Perdeu as forças dos tentos
    Nas tramelas das urinas
    Vai pisando na bombacha
    E mijando nas botinas

    Se pra transplante não deu
    Eu aceito sem retombo
    Um dia eu tento de novo
    E juro a Deus me cura
    Quero ser um doador
    Na obra da criação
    Quando eu ir pra terra fria
    Posso ainda ser garantia
    Dando vida ao nosso irmão


    Comentários

    Envie dúvidas, explicações e curiosidades sobre a letra

    0 / 500

    Faça parte  dessa comunidade 

    Tire dúvidas sobre idiomas, interaja com outros fãs de Bugre do Carró e vá além da letra da música.

    Conheça o Letras Academy

    Enviar para a central de dúvidas?

    Dúvidas enviadas podem receber respostas de professores e alunos da plataforma.

    Fixe este conteúdo com a aula:

    0 / 500

    Opções de seleção