Everything Zen

Cultura pop e tédio em “Everything Zen”, da Bush (1995)

A ironia de “Everything Zen” é usar um mantra de serenidade para expor um mundo de tédio, consumo e fama descartável. Primeiro single do Bush em 1995, a faixa destila o ceticismo grunge em flashes de cultura pop e frases cortantes. O próprio refrão — “Everything Zen, I don’t think so” (Tudo Zen, acho que não) — recusa qualquer consolo. Desejo vira mercadoria em “There must be something we can eat / Maybe find another lover” (Deve haver algo que possamos comer / talvez encontrar outro amante), e a rota para o centro da indústria aparece em “Should I fly to Los Angeles / Find my asshole brother” (Devo voar para Los Angeles / encontrar meu irmão babaca).

As citações pop reforçam a crítica: “Mickey Mouse has grown up a cow” (Mickey Mouse cresceu e virou uma vaca) ironiza a comercialização de ícones, enquanto “Dave’s on sale again” (Dave está à venda de novo) transforma a celebridade em produto. O tom é seco, quase zombeteiro: “We kissy kiss in the rear view” (Damos beijinhos no retrovisor) e “We’re so bored / You’re to blame” (Estamos tão entediados / a culpa é sua) pintam relações superficiais. Ao ecoar Tom Waits em “Rain dogs howl for the century / A million dollars at stake” (Cães da chuva uivam pelo século / um milhão de dólares em jogo) e nos trechos “demigod” (semideus) e “fake with a saint” (fingir com um santo), a letra mira a espiritualidade performática. A dessensibilização vem à tona em “There’s no sex in your violence” (Não há sexo na sua violência), e o culto eterno à fama surge em “I don’t believe that Elvis is dead” (Eu não acredito que Elvis esteja morto). O clipe sombrio de Matt Mahurin cristalizou esse mal-estar e, com o sucesso nas paradas de rock dos EUA, levou o ceticismo do Bush ao mainstream.