Mariquinha

“Mariquinha” celebra desejo, luto e força feminina

Em “Mariquinha”, o luto vira festa e desejo. A morte da personagem logo gera vida em “Na cova de Mariquinha / Nasceu um pé de fulô”, enquanto o coro convoca a celebração no salão da Baroneza em “Ai minha beleza / Vamos dar um baile”. As imagens de ferramentas e objetos — enxada, “cavador”, vassoura, o “anel que caiu do dedo” e o som que “retiniu mais de uma hora” — acionam o repertório de duplo sentido típico do cacuriá: sensualidade insinuada, humor e provocação. Isso está no DNA do Cacuriá de Dona Teté, ligado às festas do Divino Espírito Santo e marcado por protagonismo feminino. A voz que puxa o coro organiza a roda, brinca com o luto e transforma a morte em ciclo, como é comum nas brincadeiras maranhenses que misturam sagrado, profano e riso.

A narrativa avança entre paixão que escapa e ciúme no salão. “Que diabo de amor é esse / Que me larga e vai simbora” expõe o amor que se solta; o “anel que caiu do dedo” sugere compromisso perdido, e “retiniu mais de uma hora” pode ser barulho no piso e o eco do escândalo. O limite do ciúme aparece em “Quem dançar com meu benzinho / Não dança vira virando”, trocadilho entre giro e “virar” o jogo. Já “Meu benzinho não é lixo / Que vassoura vai levando” recusa tratar o parceiro como descartável e sugere “varrer” rivais. A tensão ganha tom rural e erótico em “Levando a minha enxada / Deixando teu cavador”, metáfora de potência e posse, até o risco aflorar em “estes meus companheiros / Têm intenção de me matar”. Em 2024, o grupo se reinventou como Cacuriá Balaio de Rosas, mantendo essa essência — inclusive o imaginário floral que brota da cova — e reafirmando as mulheres como guias da tradição e do salão.