As Coisas

Inquietação e instabilidade em “As Coisas” de Caetano Veloso

Em “As Coisas”, Caetano Veloso explora a inquietação presente no cotidiano ao repetir insistentemente a frase “as coisas não têm paz”. A letra detalha características concretas dos objetos, como peso, massa, cor e função, mas contrapõe essa objetividade à sensação de agitação constante. Mesmo com tantas propriedades definidas, as coisas parecem nunca alcançar um estado de tranquilidade, o que sugere uma crítica à busca incessante por controle e definição no mundo material. Essa abordagem reflete a instabilidade e a efemeridade da vida contemporânea, onde tudo está em transformação.

A estrutura da música, inspirada na poesia concreta e influenciada por Arnaldo Antunes, reforça o caráter experimental da canção. Ao listar atributos de forma quase científica, Caetano evidencia o desejo humano de classificar e entender o mundo. No entanto, a repetição da falta de paz mostra que, apesar desse esforço, existe uma inquietação inerente não só às coisas, mas também à sociedade. “As Coisas” propõe, assim, uma reflexão sobre a impossibilidade de alcançar estabilidade plena, seja nos objetos ou nas relações humanas, em um cenário de constante mudança.