Circuladô de Fulô

A celebração da cultura popular em “Circuladô de Fulô”

“Circuladô de Fulô”, de Caetano Veloso, destaca a criatividade e a força da cultura popular nordestina, explorando a relação entre o erudito e o popular tanto na letra quanto no arranjo musical. O uso do violoncelo para imitar a rabeca, instrumento típico do Nordeste, reforça essa mistura de universos. A letra, inspirada no poema de Haroldo de Campos, valoriza a capacidade do povo de criar beleza e linguagem mesmo em situações adversas. A expressão “Circuladô de fulô” faz referência ao cantador que percorre feiras e festas, improvisando versos e melodias com instrumentos simples, como ilustrado em “feito apenas com um arame tenso / um cabo e uma lata velha num fim de festa”. Essa imagem ressalta a inventividade e a resistência dos artistas populares, que transformam a escassez em arte.

O trecho “puxada na tripa da miséria / na tripa tensa da mais megera miséria física” evidencia as dificuldades enfrentadas pelo povo, mas também sua capacidade de criar música e poesia a partir do sofrimento. A canção questiona o que é considerado música popular e quem define isso, como em “Aquela música se não canta não é popular / Se não afina, não tintina, não tarantina”. O refrão, “Que Deus te guie porque eu não posso guiá”, expressa respeito e humildade diante da tradição popular, reconhecendo que o artista pode dar continuidade, mas não controlar esse fluxo criativo. Ao final, a música reafirma a autonomia do povo e do artista popular, que aprende com os mestres do passado, mas precisa seguir seu próprio caminho: “Pois o mestre que me ensinou / Já não dá ensinamento”. “Circuladô de Fulô” é, assim, um tributo à inventividade, resistência e renovação da cultura popular brasileira.