Fora de Ordem

Crítica social e globalização em “Fora de Ordem” de Caetano Veloso

Em “Fora de Ordem”, Caetano Veloso expressa seu desconforto com as transformações globais do pós-Guerra Fria, especialmente a exclusão do Brasil e de seus problemas internos diante da chamada "nova ordem mundial". A repetição dos versos “Alguma coisa está fora da ordem / Fora da nova ordem mundial” destaca a ironia do artista em relação às promessas de progresso e estabilidade, enquanto a realidade brasileira segue marcada por desigualdade, violência e marginalização. Trechos como “cano da pistola que as crianças mordem” e “Vapor barato um mero serviçal do narcotráfico” escancaram o cotidiano de abandono e precariedade, mostrando como até a infância é afetada pela violência e pela falta de oportunidades.

O contraste entre o Leblon, bairro símbolo da elite carioca, e referências à miséria e ao lixo baiano reforça a crítica à desigualdade social. A citação aos Ianomâmis evidencia a invisibilidade e a resistência dos povos indígenas, enquanto a menção a Jorge Ben Jor e à “pletora de alegria” sugere que, mesmo em meio ao caos, a cultura brasileira resiste e se afirma como identidade. No refrão final, Caetano utiliza inglês, espanhol, francês e japonês, ampliando a sensação de desordem e mostrando que o sentimento de estar “fora da ordem” é compartilhado em diferentes partes do mundo. Assim, a música se torna uma crônica política e urbana, onde a beleza e a vitalidade do Brasil coexistem com a ruína e a desilusão.