Haiti (part. Gilberto Gil)

Reflexão sobre desigualdade e racismo em “Haiti (part. Gilberto Gil)”

A música “Haiti (part. Gilberto Gil)”, de Caetano Veloso, utiliza o Haiti como um espelho para revelar as feridas sociais do Brasil, mostrando que as semelhanças entre os dois países são maiores do que muitos admitem. O refrão “O Haiti é aqui, o Haiti não é aqui” provoca o ouvinte a refletir sobre a negação coletiva das semelhanças entre a miséria, o racismo e a violência presentes em ambos os países, desafiando a ideia de que o Brasil está distante dos problemas históricos do Haiti.

A letra traz imagens diretas e impactantes, como na cena dos soldados “quase todos pretos dando porrada na nuca de malandros pretos”, que evidencia o racismo estrutural e a brutalidade policial, especialmente após o massacre do Carandiru, citado indiretamente ao mencionar “111 presos indefesos”. A música também critica a hipocrisia das elites políticas e religiosas, como no trecho em que um deputado teme a democratização do ensino e defende a pena de morte, enquanto um cardeal valoriza mais “o espírito no feto” do que “no marginal”. Essas passagens escancaram a exclusão social e a seletividade moral presentes na sociedade brasileira.

O Haiti funciona como metáfora para a exclusão, a pobreza e a violência que atravessam o Brasil, reforçada por referências ao cotidiano, como o desrespeito às leis de trânsito e a indiferença diante da desigualdade. Inspirada por uma experiência de Caetano Veloso no Pelourinho, a canção mistura elementos de rap e ritmos tradicionais, ampliando o impacto da crítica social e tornando “Haiti” uma das mais contundentes denúncias da desigualdade e do racismo no país.