Língua

A celebração da língua portuguesa em “Língua” de Caetano Veloso

Em “Língua”, Caetano Veloso coloca o idioma português no centro da canção, explorando sua riqueza, história e papel na construção da identidade brasileira. Logo no início, o verso “Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões” destaca o diálogo entre o português de Portugal e o do Brasil, valorizando tanto a herança quanto a autonomia criativa do país. Caetano utiliza jogos de palavras como “Pessoa na pessoa” e “rosa no Rosa” para homenagear figuras literárias como Fernando Pessoa e Guimarães Rosa, mostrando como a língua é espaço de invenção e pertencimento pessoal.

A música brinca com as características do português brasileiro, ressaltando diferenças como “ser” e “estar” e a preferência por palavras terminadas em “ã”, como “rã” e “ímã”. Referências como “Flor do Lácio”, “Sambódromo” e “Lusamérica” misturam elementos eruditos e populares, evidenciando a diversidade e as transformações do idioma. O refrão “O que quer, o que pode esta língua?” propõe uma reflexão sobre os limites e as possibilidades do português. A participação de Elza Soares, em um momento difícil de sua carreira, reforça a ideia de resistência e reinvenção cultural.

Além de celebrar, Caetano também provoca: ironiza o “falso inglês relax dos surfistas” e sugere “Sejamos imperialistas!”, questionando a influência estrangeira e a busca por uma identidade própria. Ao afirmar “A língua é minha pátria / E eu não tenho pátria, tenho mátria / E quero frátria”, ele propõe que o idioma é mais importante que a nacionalidade, defendendo uma fraternidade baseada na língua. “Língua” é, assim, uma homenagem irreverente à diversidade e ao poder transformador da linguagem na cultura brasileira.