Pele

A relação entre corpo e espiritualidade em “Pele” de Caetano Veloso

Em “Pele”, Caetano Veloso transforma a pele em um símbolo que vai além do físico, representando pureza, espiritualidade e uma ligação direta com o divino. O verso “Deus deseja que a tua doçura / Que também é a dele / Se revele, mais pura, na tua pele” mostra como a pele é vista como um canal onde a doçura e a essência divina se manifestam de forma sensível e visível. Esse olhar se conecta ao contexto do álbum “Jóia”, cuja capa original trazia nudez como símbolo de inocência e foi censurada pelo regime militar. Assim, a pele exposta na canção representa não só vulnerabilidade, mas também autenticidade e resistência à repressão.

A letra utiliza imagens delicadas, como “Lua na noite escura” e “a brancura do pólo se descongele”, para associar a pele à luz, esperança e renovação. Ao descrever a pele como “pétala calma” e “parte mais clara da alma”, Caetano sugere que ela é o lugar onde sentimentos e mistérios se revelam, mas também permanecem enigmáticos, como no trecho “Que o mistério se desvele / E outra vez mistério seja / Sobre tua pele”. Dessa forma, a música celebra a pele como espaço de encontro entre o sagrado e o humano, entre o que é visível e o que permanece oculto, evocando sensações de ternura, desejo e contemplação.