Anjos Tronchos

Crítica à tecnologia e esperança em "Anjos Tronchos"

Em "Anjos Tronchos", Caetano Veloso utiliza ironia ao chamar os criadores do Vale do Silício de "anjos tronchos". Ele sugere que, apesar de serem vistos como agentes de progresso, esses personagens acabam promovendo vícios e distorções, como mostra o verso “Vai ser virtuoso no vício / Das telas dos azuis mais do que azuis”. A música critica o poder das big techs e a influência dos algoritmos, que transformam a vida das pessoas em “um denso algoritmo / Que vende venda a vendedores reais”, indicando que até a subjetividade humana é convertida em mercadoria pelas plataformas digitais.

A referência à “Primavera árabe” seguida de “E logo o horror” mostra como as redes sociais, que poderiam ser ferramentas de emancipação, também geram caos e manipulação. Caetano destaca a ascensão de líderes populistas impulsionados por essas plataformas, como em “Palhaços líderes brotaram macabros / No império e nos seus vastos quintais”. Ao citar Billie Eilish, que “faz tudo do quarto com o irmão”, ele aponta tanto a democratização do acesso à produção artística quanto o isolamento causado pela tecnologia. As menções a Schoenberg, Webern e Cage reforçam que, mesmo em meio ao caos digital, ainda há espaço para a arte e a reflexão, embora as relações estejam cada vez mais virtuais, como em “sem pele, tela a tela / Estamos aí”.

No final, a música questiona se há salvação diante desse cenário, com versos como “Um post vil poderá matar / Que é que pode ser salvação?”, mas termina com esperança na poesia e na arte: “Mas há poemas como jamais / Ou como algum poeta sonhou”. "Anjos Tronchos" é, assim, uma reflexão crítica sobre o impacto da tecnologia, os riscos da manipulação digital e a busca por sentido nas redes.