Meu Coco

Reflexões sobre identidade e cultura em “Meu Coco”

Em “Meu Coco”, Caetano Veloso utiliza a expressão nordestina para "minha cabeça" como ponto de partida para um mergulho em suas próprias memórias, pensamentos e reflexões sobre a identidade brasileira. A letra é marcada por uma sucessão de nomes, lugares e expressões que, embora possam parecer desconexos à primeira vista, formam um retrato da diversidade cultural, étnica e linguística do Brasil. Quando Caetano diz “Simone Raimunda disparou as Luanas” e “A palavra bunda é o português dos Brasis”, ele destaca como a linguagem e a cultura do país são resultado de uma mistura de influências e histórias, reforçando a ideia de um Brasil “mulato, híbrido e mameluco”.

A música também presta homenagem a grandes mulheres da música brasileira, como Nara Leão, Maria Bethânia e Elis Regina, no verso “Com Naras, Bethânias e Elis / Faremos mundo feliz”, ressaltando o papel fundamental dessas artistas na construção de um Brasil mais plural. A referência a João Gilberto em “João Gilberto falou / E no meu coco ficou” mostra como as ideias e sons de outros artistas permanecem na mente de Caetano, influenciando sua visão. O verso “Somos chineses” provoca a ideia de uma identidade fixa, sugerindo que o Brasil é múltiplo e aberto a influências globais. Ao citar nomes como Moreno, Zabelê, Amora, Amon e Manhã, Caetano conecta o pessoal ao coletivo, homenageando pessoas próximas e a memória de Manhã de Paula, e apontando para o futuro do país, simbolizado pelo “açaí guardiã”. “Meu Coco” é, assim, um convite à celebração da riqueza e complexidade do Brasil, com o tom leve e afetuoso característico de Caetano Veloso.