Aléjate de Mí

Vulnerabilidade e autossabotagem em "Aléjate de Mí" de Camila

Em "Aléjate de Mí", Camila apresenta uma narrativa marcada pela honestidade desconfortável do eu lírico, que admite suas próprias falhas e pede que a pessoa amada se afaste, mesmo sem realmente desejar isso. Mario Domm, autor da música, explicou que a canção foi uma forma de se libertar da imagem de "homem perfeito" que o público projetava nele. Isso fica claro nos versos: “No soy quien en verdad parezco y perdón / No soy quien crees / Yo no caí del cielo” (Não sou quem realmente pareço, me perdoe / Não sou quem você pensa / Eu não caí do céu). Aqui, ele desmonta qualquer idealização, assumindo que não é um anjo e que pode causar sofrimento, mesmo sem intenção.

A letra gira em torno do conflito entre o desejo de proteger quem se ama e a incapacidade de corresponder às expectativas dessa pessoa. O pedido insistente para que a outra parte se afaste – “Aléjate de mí, escapa, vete, ya no debo verte” (Afaste-se de mim, fuja, vá, já não devo te ver) – revela uma confissão dolorosa: apesar de pedir distância, ele não quer perder esse amor. A metáfora de “caminar bajo la tormenta” (caminhar sob a tempestade) sugere que o narrador já vive em meio a problemas e não quer arrastar o outro para esse sofrimento. O trecho “Un ángel te cuida / Y puso en mi boca la verdad para mostrarte la salida” (Um anjo cuida de você / E colocou a verdade na minha boca para te mostrar a saída) reforça que, por mais doloroso que seja, a sinceridade é um ato de cuidado. Ao admitir ser “bueno en engañar y hacer sufrir a quien más quiero” (bom em enganar e fazer sofrer quem mais amo), o narrador reconhece um padrão destrutivo em si mesmo, tornando o pedido de afastamento um gesto de amor e autopreservação. O tom confessional aproxima o ouvinte da realidade imperfeita dos relacionamentos, mostrando que nem sempre o amor basta para evitar o sofrimento.