Cidadão

Exclusão social e pertencimento em “Cidadão” de Canindé

A música “Cidadão”, de Canindé, aborda de forma clara a exclusão social enfrentada por trabalhadores que constroem a cidade, mas são impedidos de usufruir dos espaços que ajudaram a erguer. Um dos momentos mais marcantes da letra é quando o personagem, ao admirar o edifício que construiu, é questionado: “Tu tá aí admirado? Ou tá querendo roubar?”. Essa frase revela o preconceito e a marginalização desses trabalhadores, que, apesar de sua importância, não recebem reconhecimento e ainda são vistos com desconfiança. O próprio Canindé, vindo do interior, representa muitos migrantes que buscam melhores condições nas cidades, mas acabam enfrentando novas formas de exclusão e preconceito.

A canção também destaca a desigualdade social ao mostrar o operário que “quase se arrebenta” trabalhando em um colégio, mas vê sua filha ser impedida de estudar ali por ser “criança de pé no chão”. Esse exemplo evidencia a barreira entre quem constrói e quem pode usufruir dos benefícios. O contraste entre a vida difícil no sertão e a frustração na cidade — “Lá a seca castigava, mas o pouco que eu plantava tinha direito a comer” — reforça o sentimento de perda de dignidade. No final, a igreja aparece como o único espaço de acolhimento, e a fala atribuída a Cristo — “Hoje o homem criou asas e na maioria das casas eu também não posso entrar” — amplia a crítica, mostrando que a exclusão atinge até valores espirituais. “Cidadão” se destaca por dar voz aos trabalhadores invisíveis e denunciar as contradições da sociedade brasileira.