A Medio Vivir (part. Ricky Martin)

“A Medio Vivir (part. Ricky Martin)” Entre perda e desejo

A imagem “respiro con un solo pulmón” (respiro com um único pulmão) transforma a ausência em algo físico e diário. Na releitura “A Medio Vivir (part. Ricky Martin)”, o encontro entre Carín León e Ricky Martin atualiza essa dor com outra cor emocional, sem perder a essência escrita por Franco De Vita. A letra descreve uma vida partida após um grande amor: “después de tanto tiempo / no me acostumbro” (depois de tanto tempo / não me acostumo) e “sin ti, todo se quedó por la mitad” (sem você, tudo ficou pela metade). O refrão “A medio vivir, a medio sentir” (a meio viver, a meio sentir) fixa a paralisia afetiva. As lembranças são muito corporais — “el primer día que nos vimos desnudos” (no primeiro dia em que nos vimos nus) e “tu pecho... y tus latidos” (seu peito... e seus batimentos) —, como se o corpo ainda esperasse a outra pessoa. “Desnudos” carrega duplo sentido: nudez física e exposição total de sentimentos.

A narrativa soa como uma ligação que ele tenta encerrar, mas não consegue: “solo te llamaba por saber / no te seguiré aburriendo” (só te liguei para saber / não vou continuar te aborrecendo). Há um fio de esperança contida em “no está de más hablar de vez en cuando” (não faz mal falar de vez em quando), em sintonia com o videoclipe de Carlos Pérez, pensado para equilibrar perda e esperança. A produção atual de Casta e Andrés Saavedra realça o tom de confissão a dois e aproxima a canção do universo regional mexicano de Carín León, sem diluir o lamento romântico que Ricky Martin consagrou em 1995. O relançamento em 2025 pela Sony Music Latin acentua a passagem do tempo que a letra insiste em negar, presa a “no encuentro salida sin ti” (não encontro saída sem você) enquanto tenta seguir adiante.