Peregrino

Busca interior e amadurecimento em "Peregrino" de Carlos Ares

Em "Peregrino", Carlos Ares explora uma jornada de autoconhecimento e reconciliação consigo mesmo. Ao se definir como "hijo de la tierra, peregrino" (filho da terra, peregrino), o artista deixa claro que sua busca vai além do deslocamento físico: trata-se de um reencontro com sua essência, especialmente após um período de confusão, como ele próprio revelou. Versos como "Semidesnudo y en sandalias / Salí a labrar mi propio sino" (“Semidesnudo e de sandálias / Saí para construir meu próprio destino”) mostram o abandono de antigas certezas e a coragem de enfrentar o desconhecido em busca de identidade.

A letra também aborda a relação entre culpa e perdão. Em "Yo he sido mi único y peor enemigo / Yo me perdono, pero nunca olvido" (“Eu fui meu único e pior inimigo / Eu me perdoo, mas nunca esqueço”), Ares faz uma autocrítica sincera, reconhecendo suas falhas, mas aceitando-as como parte do processo de amadurecimento. O desejo de paz e liberdade aparece em "Quiero dormir tranquilo / A la sombra de un olivo / Quiero sentir vértigo / A volar lejos del nido" (“Quero dormir tranquilo / À sombra de uma oliveira / Quero sentir vertigem / Ao voar longe do ninho”), expressando tanto a busca por raízes quanto a vontade de se lançar ao novo. Ao mencionar "Fue tirarme de cabeza a un río de pirañas / Y en mi nuca la guadaña y su frío filo" (“Foi me jogar de cabeça em um rio de piranhas / E na minha nuca a foice e seu fio frio”), ele reforça a vulnerabilidade e os riscos do autodescobrimento. Por fim, ao associar a música ao "ruido / De los estorninos que me acompañan" (“barulho / Dos estorninhos que me acompanham”), Ares conecta a arte à natureza e à companhia constante dos próprios pensamentos. "Peregrino" se apresenta, assim, como um relato honesto de amadurecimento, onde o passado é reconhecido, mas não limita, e o verdadeiro caminho é interno.