Morte do Leiteiro

Violência e injustiça social em “Morte do Leiteiro”

Em “Morte do Leiteiro”, Carlos Drummond de Andrade constrói uma crítica direta à violência social e à indiferença diante da morte de trabalhadores humildes. O poema utiliza a imagem do leite, tradicionalmente associado à pureza e ao sustento, misturando-o ao sangue derramado do leiteiro. Essa fusão, especialmente no verso final, simboliza como a brutalidade e a injustiça se tornam parte do cotidiano, criando uma nova realidade marcada pela tragédia. O contexto histórico do Brasil dos anos 1940, com forte desigualdade social e defesa rígida da propriedade privada, reforça a denúncia feita pelo autor.

A rotina do leiteiro é apresentada de forma simples, mas já marcada pela hostilidade: “sai correndo e distribuindo leite bom para gente ruim”. O trecho “Ladrão? Se pega com tiro” evidencia a mentalidade da época, em que a violência era vista como resposta legítima a qualquer suspeita, mesmo que isso custasse a vida de inocentes. Após a morte do leiteiro, sua individualidade é apagada: “se era noivo, se era virgem, se era alegre, se era bom, não sei, é tarde para saber”. Drummond mostra como a sociedade ignora a humanidade das vítimas, tratando-as apenas como números. Além disso, o poema pode ser interpretado sob uma perspectiva mitológica, com o leiteiro assumindo o papel de herói trágico, sacrificado por uma coletividade que não reconhece seu valor, ampliando o alcance simbólico da narrativa.