
O Enterrado Vivo
Carlos Drummond de Andrade
Repetição e conflito interno em “O Enterrado Vivo”
Publicado no livro Fazendeiro do Ar (1954), “O Enterrado Vivo” usa a anáfora de “sempre” como engrenagem de clausura. Ao distribuir “aquele orgasmo” ao passado, “aquele duplo” ao presente e “aquele pânico” ao futuro, o eu lírico cerca todas as camadas do tempo e instala monotonia e inevitabilidade. O efeito é de estagnação diante dos próprios limites: o prazer fica preso ao que já foi, a identidade aparece cindida no agora e o porvir surge dominado pela ansiedade.
As imagens encadeiam autocontradições que revelam o inimigo interior. Em “no meu trato o amplo distrato”, o acordo já traz a ruptura; em “na minha firma a antiga fúria”, “firma” pode ser assinatura ou empresa, e “fúria” espelha “firma” quase como um anagrama, desestabilizando aquilo que deveria dar lastro. “No mesmo engano outro retrato” sugere mudança de face com repetição do erro. O limite aparece explícito em “nos meus pulos o limite”. “Nos meus lábios a estampilha” indica fala carimbada e censurada, uma marca burocrática que taxa a voz; o presente “duplo” aponta tanto para duplicidade moral quanto para divisão íntima. “No meu não aquele trauma” liga a recusa a feridas antigas; “no meu amor a noite rompe” mostra a sombra invadindo o afeto; “dentro de mim meu inimigo” nomeia a guerra que já lateja “no meu sono”. O fecho, “sempre no meu sempre a mesma ausência”, condensa o sentido: a repetição não organiza o caos, apenas o eterniza.
O significado desta letra foi gerado automaticamente.



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