Poema de Sete Faces

Solidão e identidade em “Poema de Sete Faces” de Drummond

Em “Poema de Sete Faces”, Carlos Drummond de Andrade apresenta, logo no início, a figura do “anjo torto” que o aconselha a ser “gauche na vida”. O termo “gauche”, que significa desajeitado ou fora dos padrões, sintetiza o sentimento de inadequação e deslocamento que atravessa o poema e a própria obra de Drummond. O poeta observa o cotidiano com um olhar crítico e sensível, como na passagem em que as casas “espiam os homens que correm atrás de mulheres”, sugerindo uma crítica à superficialidade das relações e à repetição de comportamentos vazios. Quando diz que a tarde “talvez fosse azul / Não houvesse tantos desejos”, Drummond mostra como a inquietação interna e o desejo constante impedem a apreciação plena da vida, moldando a percepção do mundo ao redor.

O poema também destaca a multiplicidade do sujeito ao notar a diversidade das “pernas brancas, pretas, amarelas” no bonde, mas logo questiona: “Para que tanta perna, meu Deus?”. Esse questionamento existencial revela a cisão entre sentimento e razão, já que o coração se inquieta enquanto os olhos permanecem indiferentes. A autoimagem de isolamento aparece em “O homem atrás do bigode / É sério, simples e forte...”, reforçando a solidão e a dificuldade de conexão profunda com os outros. A súplica “Meu Deus, por que me abandonaste?” expressa o desamparo diante da própria fragilidade. O jogo de palavras entre “Raimundo” e “rima” mostra a busca por sentido e identidade, mas também a consciência de que não há soluções fáceis: “Seria uma rima, não seria uma solução”. Ao afirmar “Mais vasto é meu coração”, Drummond contrapõe a imensidão do mundo à profundidade dos sentimentos pessoais. O poema termina com a confissão sobre a Lua e o conhaque, mostrando como elementos simples do cotidiano despertam emoções intensas, encerrando com a melancolia e sensibilidade características do autor.