Estrambote Melancólico

Limites e sentimentos em "Estrambote Melancólico" de Drummond

Em "Estrambote Melancólico", Carlos Drummond de Andrade utiliza o recurso do estrambote — versos extras além do soneto tradicional — para mostrar que certos sentimentos não cabem em formas rígidas. Essa escolha formal já indica a necessidade de transbordar emoções, especialmente a sensação de "alta ausência em meu redor" e a saudade de si mesmo. O eu lírico sente falta de versões passadas ou possíveis de si, e essa ausência é tão intensa que ultrapassa até mesmo a estrutura clássica do poema.

A melancolia e o remorso aparecem de forma clara, principalmente no verso "de tanto que não fui, a sós, a esmo", que sugere arrependimento por oportunidades não vividas e caminhos não seguidos. O trecho "tenho muitos outros sentimentos violentos. Mas se esquivam no inventário" revela a dificuldade de organizar ou entender as próprias emoções, que acabam escapando do controle. A imagem da "estrela-d'alva" que "penetra longamente seu espinho" na mão reforça a ideia de uma dor persistente e complexa, simbolizando que a melancolia é uma presença constante, multifacetada e difícil de ser compreendida. Assim, o poema expressa de forma direta a luta interna entre saudade, remorso e a busca por autoconhecimento.