Obrigado

Ironia e leveza nas relações humanas em “Obrigado”

Em “Obrigado”, Carlos Drummond de Andrade utiliza a ironia para agradecer não só pelos gestos de gentileza, mas também pelas pequenas indiferenças e desfeitas do dia a dia. O poeta agradece tanto a quem lhe oferece um lugar no bonde quanto a quem o ignora ou o julga sem motivo, como nos versos: “me negam cumprimento / Sem o mais mínimo argumento”. Essa postura revela um olhar bem-humorado sobre a efemeridade das relações humanas, destacando como gestos e julgamentos são passageiros.

Drummond também brinca com os estereótipos e as suposições que as pessoas fazem sobre ele, sendo chamado de “deputado” ou “milionário” sem fundamento, ou ainda visto como “primo-irmão / Do rei da fava ou do hindustão”. Ao agradecer até mesmo aos que rejeitam seus poemas, ele ironiza a crítica e a incompreensão, mostrando que tanto elogios quanto desprezos são transitórios. A metáfora final, em que se compara ao “fumo dos charutos” que “já subo aos céus, já volvo ao chão”, reforça a ideia de que reconhecimento e anonimato são igualmente fugazes. O poema, assim, convida o leitor a encarar com leveza e humor as vaidades e insignificâncias dos encontros cotidianos.