24 Horas Sem Velório

Violência cotidiana e resistência em “24 Horas Sem Velório”

“24 Horas Sem Velório”, de Carlos Eduardo Taddeo, expõe de forma direta o desejo por um único dia sem mortes violentas nas periferias brasileiras. O título e o refrão repetido reforçam como a ausência de velórios e luto seria algo extraordinário nessas comunidades, evidenciando a naturalização da morte precoce e brutal entre os marginalizados.

A letra faz denúncias claras sobre a violência policial e o papel do Estado no genocídio da população pobre e negra. Trechos como “É muito fácil legitimar nosso massacre / É só inventar ligação interceptada na reportagem” e “Genocídio não é feito só com moto e pólvora / Também é feito com caneta e toga” mostram tanto a manipulação midiática quanto o uso do sistema judiciário como ferramentas de opressão. Eduardo utiliza a música como instrumento de conscientização, abordando a brutalidade policial, a desigualdade social e a hipocrisia de discursos como “direitos humanos para humanos direitos”. Ao citar movimentos como Black Lives Matter e casos de racismo em estabelecimentos populares, ele conecta a realidade brasileira a lutas globais contra o racismo estrutural.

A música também aborda o ciclo de exclusão social e criminalização, como em “O rejeitado que tem o perfil reprovado na firma / Raciocínio simples, criança com oitão / Quando crescer vai querer liderar rebelião”. Eduardo mostra que a violência é consequência de um sistema que nega direitos básicos e empurra jovens para a criminalidade. O convite final para “embarcar no sonho 24 horas sem velório” representa um chamado à resistência e à esperança diante de uma realidade marcada pela dor e injustiça.