Recaída

Crítica social e drama pessoal em "Recaída" de Carlos Eduardo Taddeo

"Recaída", de Carlos Eduardo Taddeo, aborda de forma direta o ciclo da dependência química, mostrando que a recaída não é um evento isolado, mas parte de uma luta constante e desgastante. A música vai além do relato pessoal ao trazer uma crítica social clara: Taddeo denuncia a negligência do Estado e a ausência de políticas públicas eficazes para dependentes químicos. Isso fica evidente no verso “Não é a droga que põe cadeado no calcanhar / É o processo estatal de aliciar, viciar e abandonar”, que liga o sofrimento individual à responsabilidade coletiva, mostrando que o vício é influenciado por fatores sociais e estruturais, não apenas por escolhas pessoais.

A letra detalha o sofrimento físico e emocional do personagem, incluindo sintomas de abstinência, degradação física e o impacto sobre a família. O trecho “Carbonizei no cachimbo as esperanças da família / Que deixou na clínica todas economias” mostra como o vício afeta não só o usuário, mas também seus familiares, que se sacrificam em busca de uma recuperação muitas vezes frustrada. O ápice da tragédia aparece quando, em um surto, o personagem mata a própria mãe, simbolizando o extremo da autodestruição causada pela fissura. Expressões como “pronto pra esquartejar por cinco minutos de loucura” reforçam o desespero e a urgência do vício.

Além do relato pessoal, Taddeo questiona a eficácia do SUS e a relação entre o poder público e clínicas privadas, como em “O Sus não trata viciado pra não quebrar o acordo fechado / Com a fazenda de desintoxicação do empresário”. Ele também desafia o estigma social ao afirmar que dependência química é doença, não desculpa para delinquência, exigindo respeito e solidariedade. "Recaída" se destaca por unir relato pessoal, crítica social e alerta coletivo, oferecendo um retrato realista dos desafios enfrentados por dependentes químicos nas periferias brasileiras.