Juramento de Playboy

“Juramento de Playboy” e o adeus ao papel de playboy

“Juramento de Playboy”, lançada em 1967 por Carlos Gonzaga — pioneiro do rock no Brasil e especialista em baladas populares — retrata um rito de passagem masculino típico da São Paulo dos anos 60: deixar a persona de playboy para entrar no figurino do casamento e da respeitabilidade. O “juramento” soa como contrato com prazo; o narrador marca a data-limite em “Falta pouco tempo para o prazo terminar”, atrelada à formatura: “Neste fim de ano, doutor vou me formar”. “Doutor” aqui pode ser o título social do recém-formado (especialmente em Direito) ou um recado ao sogro “doutor”, pedindo paciência até o grande dia.

A letra mapeia, com humor romântico, os passos dessa adequação. Ele jura “trocar meu pé de bode por um Volks”, contrapondo um veículo velho/alternativo a um Volkswagen, símbolo de estabilidade de classe média; também promete largar “calças justas” e “blusão vermelho” por “um terno de senhor”. Até a geografia muda: “deixar a Rua Augusta por você” é abrir mão do circuito jovem noturno paulistano pelo namoro sério. O título brinca com a credibilidade da promessa: “juramento de playboy” pode ser “o juramento feito por um playboy” ou a sugestão de que promessa de playboy é suspeita — daí a reafirmação em “Logo depois, com você vou me casar”. No conflito central, ele quer “aproveitar o que me resta” com “a turma” antes do prazo acabar, mas já lista os gestos finais: cortar a “cabeleira” e trocar o “sapato branco por um preto”. Gonzaga transforma a tensão entre juventude rockeira e vida doméstica em comédia romântica cantada, conciliando sua veia romântica com a estética pop que o consagrou.