Angeli e fragole

“Angeli e fragole”: desejo, presente e imperfeição

“Angeli e fragole”, de Carlotta, confronta o ideal de pureza dos anjos com o prazer doce e bagunçado dos morangos, assumindo a imperfeição sem culpa. As imagens do cotidiano viram metáforas sensuais de duplo sentido, como “un francobollo sarei… per usarmi tu leccarmi dovrai” (eu seria um selo... para me usar, você terá que me lamber) e “ci sporchiamo ancora con le fragole” (a gente ainda se suja com morangos). No centro, a canção celebra o agora: “seguo l’istinto / vivo il momento / non penso al domani / il paradiso se c’è è adesso con te” (sigo o instinto / vivo o momento / não penso no amanhã / se existe paraíso, é agora com você). O refrão “Angeli noi non siamo angeli” (anjos, nós não somos anjos) assume a humanidade falha, com “sogni così piccoli” (sonhos tão pequenos) e “non dormiamo tra le nuvole” (não dormimos entre as nuvens), sem pose de santidade.

A narrativa equilibra desejo, liberdade e vulnerabilidade. Ela se diz “poco raffinata” (pouco refinada), come com as mãos, não liga para quem olha, se entrega ao toque: “che brave le tue mani spalmate su di me” (que boas são as suas mãos sobre mim), mas admite momentos de fragilidade: “così fragili” (tão frágeis) e “piccoli animali senza regole” (pequenos animais sem regras). Os símbolos são diretos: anjos como ideal inalcançável; morangos como prazer físico; “favole” (contos de fadas) como esperança infantil em meio ao realismo. A alternância para o espanhol — “Esta es la vida yo quiero sognar… chico te quiero estoy loca por ti” (esta é a vida que eu quero sonhar... garoto, eu te amo, estou louca por você) — intensifica a paixão e amplia, segundo o contexto, o alcance da faixa do álbum Promessa (2000). No fim, prevalece um amor espontâneo e sem culpa: “io do ma non sai quanto mi dai” (eu dou, mas você não sabe o quanto me dá) e a escolha do presente como única promessa segura.