As Minhas Penas

Sofrimento e resignação em "As Minhas Penas" de Carminho

A música "As Minhas Penas", de Carminho, destaca-se pelo uso inteligente do duplo sentido da palavra "penas". A letra contrapõe as "penas das avezinhas", que são leves e permitem o voo, com as "minhas pesam tanto / Que às vezes já nem o pranto / Lhes alivia o pesar". Esse contraste evidencia a diferença entre a liberdade natural das aves e o peso emocional que aprisiona quem sofre, mostrando como o sofrimento humano é persistente e difícil de aliviar.

O tom melancólico da canção é reforçado pela repetição de que as "penas" pessoais não caem, não voam e não saem, o que perpetua a sensação de amargura e de destino já traçado: "Mostram apenas na vida / A estrada já conhecida / Trilhada p’los sem ventura". Carminho costuma interpretar essa música de forma intimista, sem microfone, o que intensifica a entrega emocional e a conexão com o público. A semelhança com "As Penas", de Amália Rodrigues, sugere uma homenagem à tradição do fado, onde o sofrimento e a resignação são temas centrais. No final, a frase "Sabe Deus e sei-o eu!" reforça a solidão e a incomunicabilidade da dor, mostrando que só quem carrega esse peso pode realmente entender o que sente.