What About Me

“What About Me” e o clamor por espaço e dignidade

Concebida para três vozes em um triângulo amoroso, a canção ganhou forma com Kenny Rogers, David Foster e Richard Marx — originalmente imaginada como diálogo com nomes como Lionel Richie e Barbra Streisand. Quando o foco recai em Kim Carnes, “What About Me” ganha o peso de um apelo por lugar que nunca chega: o refrão “Oh, what about me?” (Ah, e eu?) soa como cobrança íntima por atenção e respeito, deslocando o “eu” e o “você” a cada verso e realçando a desigualdade no vínculo.

A narrativa é direta e dolorida. Ela acredita ter encontrado um “para sempre”, sente o impacto do olhar correspondido, mas esbarra na divisão de afeto: “You were my love before but I need so much more of you” (Você já foi meu amor, mas eu preciso de muito mais de você). O texto alterna esperança e desassossego: “Time after time I feel I’m losing my mind / Or maybe this is what lovers must go through” (Vez após vez eu sinto que estou perdendo a cabeça / Ou talvez seja isso que os amantes precisam enfrentar) expõe o vaivém entre pânico e racionalização; “No reason to pretend / True love affairs don’t have to come to an end” (Sem motivo para fingir / Histórias de amor verdadeiras não precisam chegar ao fim) tenta segurar o laço sem “todas as respostas”. Metáforas como “losing my mind” (perdendo a cabeça) e “I nearly go insane” (eu quase enlouqueço) dão corpo à ansiedade e ao ciúme, enquanto “wasting our time” (perdendo nosso tempo) teme a inutilidade do esforço. Embora o contexto aponte para três pessoas, a leitura comporta duplo sentido: a “rival” pode ser outra pessoa ou a própria vida que rouba presença; em ambos os casos, a pergunta persiste e dói do mesmo jeito.