Há, Há, Há

Desencontro em “Há, Há, Há”, da Catuaba com Amendoim

O “ha, ha, ha” de “Há, Há, Há” não é só risada: é a pista de que a moça se comunica de outro jeito. A Catuaba com Amendoim transforma o flerte no baile do interior em uma história de suposição e ruído, típica do humor narrativo da banda. Ele chega sem convite, se encanta pela morena que “sobrava” enquanto os rapazes tiravam as outras, e a convida. Fala ao ouvido — "Já falei bonitinho no ouvido / E ela fez ha, ha, ha" — e insiste entre as pausas do músico, mas recebe sempre o mesmo som. A repetição e a onomatopeia funcionam como refrão e como marca de presença dela, embaladas pelo vai e vem do salão.

O mal-entendido cresce: ele aperta a dança, provoca, espera reação, e ela responde apenas com "ha, ha, ha". Quando surge "Todo mundo dançando me olhava / E fazia um ha, ha, ha, ha", entra o olhar da comunidade — que parece já conhecer a situação, enquanto o forasteiro não percebe. Na saída, ela fala por gestos — "Deu sinal com a cabeça que sim" — e ele segue falando sozinho, até a virada: "Fez sinal que era surda e muda / E ainda fez ha, ha, ha, ha, ha, ha". O humor nasce do choque entre a empolgação dele, o constrangimento no salão e a revelação final, que mostra que aquelas “risadas” eram a forma de comunicação dela. Por baixo, a canção comenta costumes do baile — o cortejo, os pais à frente, levar a moça em casa — e destaca como comunicação não verbal, expectativas trocadas e a própria onomatopeia movem a história, uma assinatura do forró eletrônico espirituoso da Catuaba com Amendoim.