Dona Culpa

Responsabilidade e ironia social em “Dona Culpa” de Cauby Peixoto

Em “Dona Culpa”, Cauby Peixoto interpreta uma composição de Jorge Ben Jor que personifica a culpa como uma mulher solteira, rejeitada por todos. A frase repetida “Dona culpa ficou solteira” destaca a tendência das pessoas de evitar assumir responsabilidades, preferindo deixar a culpa isolada, como se fosse possível ignorar os próprios erros. O tom irônico da música aparece justamente nesse distanciamento: todos reconhecem a existência da culpa, mas ninguém quer "casar" com ela, ou seja, ninguém quer assumi-la de verdade.

A letra também propõe uma reflexão sobre a necessidade de equilíbrio entre fé e ciência para alcançar a liberdade. O verso “aqui só se voa com duas asas, com a asa da fé e com a asa da ciência” sugere que, para evoluir e não fracassar, é preciso unir crença e conhecimento. Além disso, referências aos ideais de “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” e à estrela do oriente que guiou os reis magos reforçam a busca por valores universais e por um caminho iluminado, tanto espiritual quanto racional. Ao criticar quem se diz inocente diante dos próprios erros e transfere a responsabilidade para outras gerações, a música evidencia a dificuldade coletiva de encarar a culpa e promover mudanças reais, mantendo um tom reflexivo e irônico característico da obra de Jorge Ben Jor e da interpretação de Cauby Peixoto.