Vai Levando (part. Miúcha e Tom Jobim)

Resiliência e ironia em “Vai Levando (part. Miúcha e Tom Jobim)”

Em “Vai Levando (part. Miúcha e Tom Jobim)”, Chico Buarque utiliza a repetição de “a gente vai levando” para destacar, de forma irônica, a persistência do brasileiro diante das dificuldades. Apesar do tom aparentemente leve, a música revela como as pessoas seguem em frente, muitas vezes por necessidade, sem perder o humor. O contraste entre referências a luxo e prestígio, como “fama”, “Ipanema” e “Ibope”, e situações difíceis ou banais, como “lama”, “problema” e “nó no peito”, reforça essa dualidade: não importa a situação, a vida continua.

Composta em 1975, durante o regime militar, a canção ganha um significado ainda mais profundo. A leveza aparente esconde uma crítica à resignação diante de um sistema opressor, evidenciada em versos como “todo o sistema” e “não tem mais jeito, a gente não tem cura”. No final, a expressão “dourando essa pílula” resume o espírito da música: é preciso suavizar as dificuldades para seguir adiante. Assim, Chico Buarque cria um retrato irônico e afetuoso da resiliência cotidiana, mostrando como o brasileiro transforma o amargo em algo suportável para continuar vivendo.