Assentamento

A luta e a esperança rural em "Assentamento" de Chico Buarque

Chico Buarque inicia "Assentamento" com a frase de Guimarães Rosa: “Quando eu morrer, que me enterrem na beira do chapadão”, conectando a música à literatura brasileira e ao sertão. Essa escolha destaca o sentimento de pertencimento à terra e antecipa o tema central da canção: a luta dos trabalhadores rurais por dignidade. Composta para um livro de Sebastião Salgado sobre reforma agrária, a música homenageia a resistência dos sem-terra e sua busca por um lugar próprio.

A letra alterna entre o cansaço de “tanta guerra” e a esperança de recomeço, expressa no convite ao deslocamento: “Zanza daqui / Zanza pra acolá”. Esse movimento retrata a vida errante dos sem-terra, expulsos das cidades e fazendas, em busca de um lar. O verso “A cidade não mora mais em mim” marca o rompimento com o espaço urbano e valoriza o campo. A enumeração de nomes próprios — Francisco, Serafim, Binho, Bel, Bia, Quim, Manuel, Miguilim — personaliza a luta coletiva, dando rosto aos anônimos do movimento. A referência a “Miguilim” reforça a ligação com Guimarães Rosa, evocando a infância sertaneja diante das dificuldades.

Nos versos finais, Chico Buarque celebra a conquista da terra: “Cana, caqui / Inhame, abóbora / Onde só vento se semeava outrora”. Ele transforma a paisagem árida em promessa de fartura, simbolizando a vitória dos trabalhadores. Ao servir de trilha para um documentário sobre o MST, "Assentamento" reafirma seu papel de denúncia social e homenagem à resistência rural, tornando-se um símbolo de esperança e persistência.