A Rosa

Contradições do amor cotidiano em "A Rosa", de Chico Buarque

Em "A Rosa", Chico Buarque utiliza uma ironia sutil para retratar a relação com Rosa, personagem que é ao mesmo tempo fonte de inspiração e de sofrimento. O verso “Arrasa o meu projeto de vida” mostra como o amor pode ser destrutivo e transformador, enquanto a metáfora do “espinho cravado em minha garganta” reforça a mistura de prazer e dor, indicando que a presença de Rosa sufoca e impede até mesmo a fala, como evidenciado pela repetição de “Garganta”.

O cotidiano do casal é apresentado com humor e leveza, como nas cenas em que Rosa “saiu pra comprar cigarro” e retorna “toda sorridente”, ou quando “limpou a minha carteira, maneira, pagou a nossa despesa”. Essas situações comuns ganham um tom irônico ao serem tratadas como grandes acontecimentos. As referências à Portela e ao termo “Odara” aproximam Rosa da cultura popular e da espiritualidade afro-brasileira, sugerindo que ela é uma figura enigmática, quase mística. A variedade de nomes e apelidos (“Alberto”, “Penélope”, “gueixa”, “fada”, “esfinge”) reforça a ideia de que Rosa é múltipla e inconstante, impossível de ser totalmente compreendida.

No fundo, a música aborda a dificuldade de controlar o amor e a pessoa amada, misturando beleza, saudade, ciúme e frustração. O tom leve e irônico transforma o drama amoroso em uma crônica bem-humorada, onde dor e encanto coexistem. A esperança de que Rosa “um dia volta pra casa” mantém vivo o sentimento, mostrando que, para Chico Buarque, o amor é feito de contradições e pequenas tragédias do dia a dia.