Caçada

Desejo e ambiguidade nos papéis em "Caçada" de Chico Buarque

"Caçada", de Chico Buarque, explora a dinâmica complexa entre caçador e presa para falar sobre as relações de desejo. A música inverte e mistura esses papéis, mostrando que, no jogo da sedução, não há um domínio fixo. O verso “Hoje é o dia da graça, hoje é o dia da caça e do caçador” destaca esse momento de entrega mútua, em que ambos experimentam tanto o prazer quanto a vulnerabilidade. Chico utiliza imagens como “Vou armado de dentes e coragem” e “Minha presa rugindo sua raça” para mostrar que a relação é marcada por agressividade e atração, com busca e resistência coexistindo.

Composta para o filme "Quando o Carnaval Chegar", a canção reflete o jogo de sedução, onde impulsos primitivos e a tensão entre aproximação e afastamento são centrais. Trechos como “E num mesmo impulso me expulsa e abraça / Nossas peles grudando de suor” evidenciam a mistura de ternura e ferocidade, mostrando que o desejo é convite e desafio ao mesmo tempo. A letra sugere que o poder é compartilhado e instável: “Dominante, não se desembaraça / Ofegante, é dona do seu senhor”. Assim, Chico Buarque mostra que, no auge da paixão, as fronteiras entre caçador e caçado desaparecem, tornando ambos cúmplices e adversários nesse ritual intenso de entrega e conquista.