Samba do Grande Amor

Desencanto e ironia no amor em "Samba do Grande Amor"

Em "Samba do Grande Amor", Chico Buarque utiliza a repetição da palavra "mentira" ao final de cada estrofe para desmontar as idealizações românticas e expor a frustração das expectativas amorosas. A música apresenta um inventário de decepções, começando pelo entusiasmo inicial do narrador — "Eu vivia enfim o grande amor" — e passando por rituais tradicionais como fidelidade, casamento e promessas religiosas, todos desmentidos e reduzidos à ilusão. O contexto da canção, que integra a trilha de "Para Viver um Grande Amor" e o segmento "Veja Esta Canção", reforça essa visão desencantada, mostrando como a paixão muitas vezes nasce de fantasias e termina em desilusão.

O tom autocrítico aparece quando o narrador se reconhece como "um amador" e admite sua ingenuidade ao apostar tudo no relacionamento, como em "dava o meu quinhão pro grande amor" e "botava a mão no fogo então com meu coração de fiador". Essa autodepreciação evolui para uma postura defensiva: "Hoje eu tenho apenas uma pedra no meu peito / Exijo respeito, não sou mais um sonhador". A "pedra no peito" simboliza o endurecimento emocional após a decepção, enquanto a recusa em se aproximar de "uma flor" — símbolo do amor — revela o medo de sofrer novamente. A repetição e as negações criam uma narrativa de amadurecimento, em que o riso final diante do "grande amor" é carregado de ironia, refletindo o aprendizado doloroso diante das próprias ilusões.