A História de Lily Braun

Contrastes e desilusões em “A História de Lily Braun”

Em “A História de Lily Braun”, Chico Buarque utiliza uma ironia sutil para mostrar o contraste entre o glamour do cabaré e a rotina opressora do casamento tradicional. O uso de palavras em inglês, como “dancing”, “cheese” e “please”, não serve apenas como um detalhe estilístico, mas reforça o clima cosmopolita e o fascínio estrangeiro que cercavam a vida artística da protagonista. Esses elementos destacam como Lily se sentia viva e desejada no ambiente do cabaré, em oposição ao que viria depois.

A narrativa acompanha a transformação de Lily, que troca a liberdade e o brilho do palco pela promessa de um amor romântico ao se apaixonar por um espectador. No entanto, ela logo percebe que o casamento a priva de tudo o que lhe dava prazer e identidade. O trecho “Nunca mais romance / Nunca mais cinema / Nunca mais drinque no dancing / Nunca mais cheese” resume essa perda, com a repetição de “nunca mais” enfatizando o vazio e a renúncia à sua antiga vida. As referências ao “anjo azul” e ao “blues” conectam Lily à tradição das divas trágicas do cabaré, sugerindo que sua história é universal e se repete ao longo do tempo. A interpretação de Gal Costa suaviza a ironia com um tom sedutor, transformando a canção em um lamento sofisticado sobre as escolhas femininas e as ilusões do amor romântico, em sintonia com o clima multifacetado do musical “O Grande Circo Místico”.