A Mulher de Cada Porto

Relações e ironia em "A Mulher de Cada Porto" de Chico Buarque

Em "A Mulher de Cada Porto", Chico Buarque utiliza a troca de papéis entre o marinheiro e a mulher para abordar, com ironia e leveza, a ideia de infidelidade. Ambos os personagens admitem, sem culpa e com certo humor, que mantêm amores em diferentes lugares. Isso quebra o estereótipo do marinheiro como o único "infiel" e mostra que a transitoriedade dos relacionamentos é uma realidade compartilhada, especialmente para quem vive entre portos e despedidas. O contexto da peça "O Corsário do Rei", para a qual a música foi composta, reforça esse jogo de espelhos, destacando que a instabilidade afetiva não é privilégio masculino, mas uma condição de quem está sempre de passagem.

A letra faz uso de imagens marítimas para tratar de sentimentos e escolhas. O marinheiro diz: "escuta o que dizem as ondas do mar", justificando sua incapacidade de se fixar. A mulher responde: "escuta o que dizem as pedras do cais", mostrando que também tem seus próprios amores e, se os reunisse, "transbordava a baía com todas as forças navais". O refrão "minha vida, querido (querida), não é nenhum mar de rosas" reforça o tom de aceitação diante das dificuldades do amor, sem dramatização. O diálogo termina com cada um seguindo seu caminho, sem ressentimentos, evidenciando maturidade e compreensão diante da separação inevitável.