O Velho

Reflexão sobre escolhas e legado em “O Velho” de Chico Buarque

"O Velho", de Chico Buarque, apresenta o retrato de um homem que chega ao fim da vida sem ter se permitido viver de verdade. A música destaca como o personagem evitou compromissos, prazeres e até o amor, evidenciado nos versos: “A vida inteira, diz que se guardou / Do carnaval, da brincadeira / Que ele não brincou”. Chico utiliza o velho como símbolo de quem, ao evitar se envolver e se entregar, termina a vida sem saudades, sem dívidas, mas também sem saldo emocional ou afetivo, aprofundando o sentimento de vazio e arrependimento.

A letra dialoga com temas recorrentes na obra de Chico Buarque, como a passagem do tempo e a efemeridade da juventude, já explorados em músicas como “A Banda”. Quando o velho é questionado sobre o que deixa de novo para o povo, ele responde: “Nada, só a caminhada / Longa, pra nenhum lugar”, reforçando a ideia de que uma vida sem entrega resulta em uma existência sem legado. No trecho final, “Foi tudo escrito em vão / E eu lhe peço perdão / Mas não vou lastimar”, há uma aceitação resignada do próprio destino, sem lamento, mas também sem conquistas ou memórias marcantes. A canção, que inspirou o romance “Leite Derramado”, propõe uma reflexão sobre envelhecimento e a importância de viver com intensidade, para que o fim da jornada não seja apenas uma despedida sem bagagem.