Ópera

Crítica social e ironia em “Ópera” de Chico Buarque

Em “Ópera”, Chico Buarque utiliza a ironia para criticar o entusiasmo pelo progresso e a modernização no Brasil, especialmente a partir da influência estrangeira. Ao citar marcas internacionais como “Shell, Coca-cola, RCA” e produtos como “gilete, kibon, lanchonete, neon”, Chico expõe a dependência do país em relação ao capital e aos costumes importados. O refrão repetido, “Ai, meu Deus do céu, me sinto tão feliz”, reforça o tom de deboche, mostrando uma felicidade artificial baseada no consumo e na aparência.

A letra narra uma ascensão social construída sobre acordos empresariais, corrupção e adaptação de valores. Um exemplo é quando Max propõe abrir um banco com “fundos no exterior” e promete modernizar a instituição do sogro, Duran, tornando-a “moderna, cristã e ocidental”. Chico ironiza essa ideia de progresso ao mostrar que ela significa abandonar o “sexo artesanal” para amar “em escala industrial”, sugerindo a mecanização das relações humanas e a perda de autenticidade. O contexto do musical “Ópera do Malandro”, que inspira a canção, reforça a crítica à corrupção, à desigualdade e à ilusão de progresso trazida pela influência estrangeira no Brasil dos anos 1940, mas ainda relevante hoje.

O tom satírico se intensifica com a apropriação de trechos de óperas clássicas, que, inseridos no universo da malandragem carioca, subvertem a ideia de grandiosidade e nobreza. Assim, Chico evidencia o falso otimismo e a superficialidade de um progresso que, na prática, mantém as mesmas estruturas de poder e exclusão social.