Senzala e Favela (part. Wilson das Neves e Emicida)

Racismo estrutural e resistência em “Senzala e Favela”

A música “Senzala e Favela (part. Wilson das Neves e Emicida)”, de Chico Buarque, expõe de forma direta como a opressão contra o povo negro no Brasil atravessa gerações, mudando de cenário, mas mantendo a mesma essência. O verso “Chicote ou zunido de bala, favela ou senzala, não faz diferença” resume a ideia central: a violência e a exclusão social que existiam no período da escravidão continuam presentes, agora sob a forma de violência policial e marginalização nas favelas. A canção foi composta para evidenciar essa continuidade histórica, traçando um paralelo claro entre o passado escravocrata e a realidade das periferias brasileiras.

A letra utiliza imagens como “o negro está sempre ao rés do chão nos degraus dessa escala” para mostrar que a desigualdade racial e social persiste, e que a posição do negro na sociedade pouco mudou ao longo do tempo. A crítica ao Estado aparece em “onde entra a mão do governo, é só uma política a mais de exclusão”, indicando que as políticas públicas muitas vezes reforçam a segregação. Ao afirmar “esse nosso apartheid é sem termo, temos que brigar por outra abolição”, a música convoca para uma luta contínua por justiça e igualdade, sugerindo que a abolição formal da escravidão não foi suficiente para garantir cidadania plena ao povo negro. A parceria entre Chico Buarque e Emicida, unindo diferentes gerações e estilos, reforça a urgência e atualidade dessa mensagem, tornando a canção um manifesto contra o racismo estrutural no Brasil.