Monólogo Ao Pé De Ouvido

Resistência e crítica social em “Monólogo Ao Pé De Ouvido”

Em “Monólogo Ao Pé De Ouvido”, Chico Science apresenta a essência do Manguebeat ao defender a modernização do passado como caminho para a evolução musical e social. Logo no início, ao dizer “Modernizar o passado / É uma evolução musical”, ele deixa claro o objetivo de unir elementos tradicionais da cultura nordestina com influências contemporâneas, mostrando que inovação não precisa romper com as raízes. O verso “Cadê as notas que estavam aqui? / Não preciso delas! / Basta deixar tudo soando bem aos ouvidos” reforça a ideia de liberdade criativa, onde a autenticidade e a experimentação são mais importantes do que seguir padrões rígidos.

A letra também faz uma forte conexão entre a luta histórica e a realidade das periferias urbanas. Chico Science cita figuras como Zapata, Sandino, Zumbi, Antônio Conselheiro, os Panteras Negras e Lampião, todos símbolos de resistência e enfrentamento à opressão. Essas referências aproximam o passado de luta à situação atual das comunidades marginalizadas no Brasil. O trecho “Em cada morro uma história diferente / Que a polícia mata gente inocente / E quem era inocente hoje já virou bandido / Pra poder comer um pedaço de pão todo fudido” evidencia a crítica social, mostrando como a violência policial e a desigualdade transformam vítimas em criminosos por necessidade. Ao concluir com “Banditismo por pura maldade / Banditismo por necessidade / Banditismo por uma questão de classe”, Chico Science destaca que o banditismo é resultado de fatores sociais complexos, não apenas de escolhas individuais. Assim, a música se torna um manifesto contra as injustiças e propõe a reinvenção cultural como forma de resistência.